Ao mesmo tempo em que tenho acesso ao mundo Wi-Fi, todos ligados via Twitter, Facebbok e outras redes, também tenho contatos com muitas pessoas que parecem ainda viver na idade da pedra lascada, como são os inúmeros pescadores de Bragança.
Conversando com um mestre de pesca, conhecido com “Ritmo”, morador da Vila de Pescadores em Ajuruteu, homem que nasceu na beira de praia e pesca há 45 anos. “Ritmo” conhece tudo de mar e se orgulha de nunca ter “alagado” um barco. Ritmo sabe manusear como ninguém uma rede, navega treze horas, a oito milhas por hora, pra encontrar um pesqueiro. Lá fora onde fica a água azul, ferra o barco e demora cinco dias com sua minúscula tripulação, ao todo são quatro homens.
O barco volta carregado de cioba e outros peixes, mil e duzentas toneladas na urna, Ritmo se orgulha do que faz, vê-se pelo entusiasmo como fala do trabalho. Quando pergunto sobre sua vida, diz, com uma ponta de tristeza que é analfabeto.
O mestre “Ritmo” não acredita que o peixe está acabando, diz ele que os cardumes apenas mudam de lugar, vão mais pra longe, mas tem saudade dos “tempos bons aquele em que pescávamos na beirada, duas redadas e o barco estava cheio, mas o oceano é muito grande e nunca vai acabar o peixe, Deus tá ai mesmo”.
O mestre pescador diz que mesmo sendo analfabeto conhece navegador e sabe manusear qualquer controle remoto. Seu filho pediu um computador, “Ritmo” diz que vai ajuda-lo a comprar. Ficará em terra o tempo de descarregar, providenciar o rancho, gelo e o óleo para voltar ao mar: “tomara que não venha a maré preta”.
Nossa conversa vai solta, “Ritmo” pede uma cerveja, eu peço um refrigerante, no fundo um som um pouco alto toca um cd de reggae, de repente entra a voz de Roberto Pinheiro anunciando uma pedra e um show lá de Belém, tudo gravado. Me despeço e volto para Bragança pensando o quanto ainda falta de políticas públicas para o homem e o meio ambiente.
As redes e os “Ritmos” precisam conversar. O Pará não pode continuar com tanta desigualdade.