Recebi por e-mail o belíssimo texto sobre a intervenção golpista que afastou os diretores eleitos da OAB e reproduzo a seguir:
AOS MEUS CONTERRÂNEOS, COLEGAS ADVOGADAS E ADVOGADOS, CONVOCAÇÃO À RESISTÊNCIA CONTRA O
Dr. Ophir, Dr. Ophir, atente para os acontecimentos da Praça Tahrir. Atente para tudo que vem acontecendo no Norte da África e no Oriente Médio. Os tiranos enfrentam a fúria das multidões e estão caindo de podres. A indignação dos povos contra o despotismo, a corrupção, a ganância e a rapinagem dos banqueiros se alastra pelo mundo: da terra de Kadafi à terra de Obama, atingindo o centro financeiro de Wall Street, coração (?) do capitalismo desalmado neoliberal; de Moscou a Lisboa, do Canadá ao Chile de Allende e à Bolívia de Evo Morales. O mundo está mudando, Dr. Ophir, abra os olhos, os povos estão sedentos de liberdade e de respeito aos direitos humanos. A humanidade vive um divisor de águas na sua marcha em busca de uma vida fraterna onde a miséria, o desrespeito às leis e a violência sejam banidas.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, o senhor assumiu o cargo mais alto que um advogado pode almejar e, eventualmente, assumir a Presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, com a fundamental ajuda daqueles que hoje o senhor, perfidamente, como o escorpião da lenda, os persegue; seja digno e honre a cadeira em que senhor se senta, que foi ocupada por Raymundo Faoro e Eduardo Seabra Fagundes, ícones da resistência à ditadura militar. Já pensou como senhor se apresentará aos advogados de todo Brasil, na XXI Conferencia Nacional dos Advogados, cujo tema é Liberdade e Democracia, com a Seccional da sua terra sob intervenção?
Dr. Ophir, Dr. Ophir, a OAB, é o templo de uma religião universal, onde o povo brasileiro cultua a deusa liberdade - Têmis - guardiã dos juramentos dos homens e das leis. Nós, os advogados, somos os seus sacerdotes. O seu livro sagrado é a Constituição da Republica e, subsidiariamente, o Estatuto da Advocacia e da OAB.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, imagine um arcebispo punindo padres, porque obedeceram aos Santos Evangelhos; imagine, Dr. Ophir, um mufti emitir uma fatwa (parecer) contrariando a chariá e o Corão para punir. um xeque respeitado por todos os crentes que freqüentam a sua mesquita ou um rabino interpretando a Torá para punir inocentes seguidores da religião hebraica. Isto, sacrilegamente, o senhor vem fazendo ao atropelar princípios constitucionais básicos e o próprio EAOAB para punir, seletivamente, por mesquinha vingança, seus inocentes colegas, os Drs.
JARBAS VASCONCELOS e ALBERTO CAMPOS e intervindo, punitivamente na Seccional, da sua terra, profanando o templo da liberdade do povo paraense.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, a história da OAB não lhe reservará um lugar confortável nesse episodio da intervenção punitiva na Seccional da sua terra natal, mesmo tendo na retaguarda uma discutível decisão, por maioria, de um Conselho Federal que, aliás, com ela, desmereceu todo o seu passado de heróica resistência à ditadura militar na defesa da democracia e pelo respeito às leis.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, o poder na democracia, que ora se constrói no Brasil, com a fundamental colaboração da OAB, tem como pedra basilar de que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos. O tempo de se passar com o trator do arbítrio sobre as instituições e tomar o poder através de golpe são coisas do passado, jogadas no lixo da história.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, organize uma chapa com os seus seguidores golpistas, há tempo para fazer campanha, e venha disputar, democraticamente, as próximas eleições e deixe os advogados paraenses dar a ultima palavra julgando, soberanamente, nas urnas, sobre quem tem, ou não, razão nesse factóide do terreno da OAB-PA em Altamira, que se transformou num imbróglio midiático para qual o senhor tem contribuído, de maneira nada edificante, como advogado e Presidente do Conselho Federal da OAB.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, não envergonhe a brava advocacia da sua terra, respeite a memória dos Patriarcas da advocacia paraense: DANIEL COELHO DE SOUZA, ALDEBARO KLAUTAU, o Velho e OTAVIO MENDONÇA.
Dr. Ophir, Dr. Ophir, respeite os seus colegas paraenses, não dê a impressão para o Brasil de que a Seccional do Pará é um feudo onde, quem não é Cavalcante, é cavalgado.
Vila de Barcarena, 05 de novembro de 1834.
Cônego, jornalista e advogado JOÃO BATISTA GONÇALVES CAMPOS