Ver-o-peso faz aniversário amanhã

Para comemorar o aniversário da mais famosa feira da Amazônia, que dizem que é amanhã, reproduzo um trecho muito bonito e histórico do livro de Leandro Tocantins – Santa Maria de Belém do Grão Pará.

Encontramos no século dezesete as vertentes históricas do Ver-o-pêso, sem que se possa apreciar a data do início da cobrança de impostos que incidiam sôbre gêneros entrados na capital. Pois a sua origem é fiscal: os tributos , pagos na base do pêso, destinavam-se à Coroa Real e, depois, à Câmara de Belém. Para isso havia de funcionar uma balança. Ver o pêso ou conhecer o vero pêso.

O cronista Baena fala na Casa do Haver do pêso, em Belém, uma instituição, aliás, que existiu no Rio de Janeiro, no ano de 1614, segundo o historiador paraense Ernesto Cruz, “para autenticar o valor do açúcar”, usado como moeda corrente. Tanto que a Câmara, na mesma cidade, permitiu a um cidadão “o privilégio de construir trapiche para ter nêle uma balança e cobrar cada quintal que fôsse pesado o impôsto de trinta réis”.

Haver do pêso, vero pêso, ver o pêso, o que importa menos é a etimologia da locução diante da realidade concreta, espantosamente viva da doca belemense que o povo quer que se chame de Ver-o-pêso. De boca do igarapé do Piri – lugar ideal para ancoradouro dos barcos e a presença de repartição fiscal que via e cobrava o pêso dos gêneros – virou doca em forma de quadrilátero, revestido de pedra. Obra realizada no Império, após muitos anos de luta (desde os tempos de colônia) contra os igapós do teimoso igarapé do Piri, que não queira se deixar aterrar.

nem uma Ribeira de Peixe Fresco, mandada ali instalar pelo Presidente da Província, Bernardo de Souza Franco (1839), em substituição à casa onde se conferia o pêso, teve fôrças para impor a sua personalidade. Ora, podia ter ficado uma “doca Ribeira de Peixe Fresca”. Ou “doca da Imperatriz” , como a designou o gôverno provincial. Nada disso. Ficou mesmo, e muito bem, o saboroso nome de Ver-o-pêso. E quem o visita repete Manuel Bandeira:

Nunca mais me esquecerei

Das velas encarnadas

Verdes

Azuis

da doca do Ver-o-pêso

Nunca mais.

 

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