Mudanças climáticas e o juízo final

Tem gente que duvida das mudanças no clima do Planeta. Uns dizem que os cientistas do IPCC são alarmistas, outros que eles são conservadores nas suas previsões. Numa coisa a ciência concorda o clima no planeta está mudando, apenas não é possível fazer previsões seguras para longos períodos.

Eu mesmo sou testemunha empírica destas mudanças. Nasci na Amazônia. Em Belém, mas precisamente na Rua 25 de Junho, bairro do Guamá. Morava na parte mais baixa da Rua. Os pobres moram nas partes baixa do planeta.

Na frente de casa havia uma vala e toda a água da chuva escorria por ela, transformando-a num imenso rio. Eu gostava de observar essa vala. Por ela passava a água que vinha da parte mais rica da minha rua.

Observando esta vala, aprendi a diferenciar chuva de verão e de inverno. No verão a correnteza da vala trazia muito lixo, a água era barrenta e rapidamente secava. Já no inverno a água vinha sem lixo, a cor era mais clara e a correnteza constante.

Quando chegava o inverno amazônico, podia se preparar para faltar aula e ficar dentro de casa. Chovia o dia todo, a noite inteira e entrava pela madrugada. Às vezes a chuva se demorava por dois e até por três dias seguidos. Isso não ocorre mais por aqui.

Quando ia estiando, a gente já sabia, apareciam os vendedores das frutas de inverno. Marajá, uxi, umari, estas frutas as pessoas não conhecem mais.

Aquele inverno amazônico desapareceu, sumiu, não será mais possível observá-lo, ficou na minha infância.

O clima mudou e disso eu tenho certeza, mesmo não sendo do IPCC. E vai continuar mudando num ritmo ainda mais acelerado.

Fico pensando daqui a alguns anos o meu filho na frente de um moderno editor de texto, movido a energia nuclear, relatando a sua infância.

Vai dizer que morava perto de uma praça cheia de árvores, vai descrever uma chuva com menor intensidade que a minha. Não vai falar das frutas de inverno, pois elas já não existem mais.

As pessoas que acessarão o seu texto, por outros meios bem mais modernos, apenas conhecem tormentas e temporais, mas tão intensos que destroem tudo por onde passam, matam pessoas todos os dias.

Os tempos de tormentas se alternarão com períodos de calor insuportável e seca tremendas. A vida ficará insuportável. Serão oito bilhões de pessoas. Os jornais estarão dizendo: O clima enlouqueceu de vez.

A Amazônia estará restrita a pequenas áreas de florestas plantadas, o resto será savanas, desertos.

O peixe-boi não existirá mais. As nossas lendas serão conhecidas se os livros do Walcir Monteiros forem digitalizados.

O que restará do Arquipélago do Marajó?

O Xingu, Tocantins e o Tapajós estarão cheios de barragens abandonadas, verdadeiras peças de museu, ao seu lado modernas usinas de energia nuclear.

Alter do Chão será uma praia paradisíaca do passado. No planalto Santarém e na estrada Santarém-jabuti, no lugar das imensas e frondosas arvores, apenas soja.

Os minérios estarão esgotados por aqui.

E o caudaloso rio Amazonas terá força para chegar ao oceano atlântico? A garganta de Óbidos com 110 metros de profundidade será atravessada a pé, com a água mal cobrindo os calcanhares.

O mapará no...vinho não existirá em abundância.

Algodoal, resistirá? Os caranguejos de São Caetano de Odivelas migrarão atrás de mangue.

As Docas do Ver-o-peso serão um retrato na parede e assim será o destino do centro histórico.

Será que o mar de salinas chegará até aqui se os oceanos ultrapassarem a barreira do Marajó? Isso pode acontecer e não será Belém ganhando a sua tão sonhada praia.

A Terra estará se auto-regulando. Matando gente por terremotos, tsunamis e outros fenômenos. A intenção é diminuir o número de habitantes ou até exterminá-los, com isso a Terra voltará a se equilibrar para viver um novo período civilizatório, rodeada de espécies, pode não ter o ser humano entre estas espécies, quem decidirá é ela. Este é o juízo final de Gaia.

 

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