Morar em cidade pode ser bom, desde que você tenha garantido pelo menos dois direitos: a moradia e a mobilidade. Morar bem e poder se deslocar de modo fácil, rápido, seguro, confortável e barato faz toda a diferença numa cidade. Ter garantido a boa moradia e a mobilidade é o que lhe dará a chamada qualidade de vida.
Em algumas cidades brasileiras, as pessoas deixam seus carros na garagem porque dispõe de metrôs, trens, ônibus rápidos, veículos leves, tudo limpo, seguro, pontual, barato e integrado. Se for em pequenas distâncias, nestas cidades, as pessoas podem usar bicicletas de forma segura. No mundo moderno, isso já é realidade.
O trânsito melhor e mais fluido na cidade, não depende de novas ruas, conquistadas com o transtorno de desapropriar casas a um custo altíssimo para o poder público, quem propõe está solução não entende absolutamente de planejamento urbano e está enxugando gelo. Precisamos de planejamento urbano que já consta no plano diretor, mas que nunca foi aplicado e de um bom sistema de transporte público, que permita as pessoas deixarem seus carros na garagem.
Em Belém moradia e mobilidade sempre estiveram fora do alcance da maioria pobre da população. Mas a mobilidade é, sem sombra de dúvidas, de longe, o que mais atormenta os belemenses. Neste sentido, eu sempre me perguntei, por que Belém não tem um sistema de transporte público de qualidade?
Já pensou você contratar uma pessoa para trabalhar como cozinheira e depois de contratada, ela resolve mandar na casa, decidindo a hora, a quantidade e o que você vai comer? Os empresários de ônibus fazem isto aqui em Belém. Eles decidem as linhas, a quantidade de ônibus, os itinerários e influenciam no valor da tarifa.
Cresci no bairro do Guamá e desde cedo convivi com o problema de transporte público da nossa cidade. Meu pai era motorista de ônibus e eu vivia no "clipper", ali da Barão de Igarapé Miri esquina com a Augusto Corrêa, acho que é o único "clipper" que ainda resiste ao tempo. Nesta época, tinham poucos ônibus para a quantidade de passageiros. Meu pai dizia que os donos gostavam que os ônibus andassem sempre lotado, porque barateava o custo de cada viajem e aumentava o lucro. De lá para cá, a lógica deles continua a mesma, ônibus cheio é certeza de aumento de lucro.
Já operário gráfico, tendo que cumprir horário para chegar ao trabalho, senti ainda mais a gravidade do problema da mobilidade. Ônibus lotados, sujos, caros e por serem velhos e não receberem manutenção adequada, sempre sujeitos a dar defeito no meio da viagem. A volta do trabalho para casa era sempre um calvário por causa, justamente, dos ônibus. Hoje piorou muito o quadro do transporte público da Metrópole da Amazônia. Os problemas continuam os mesmos, agora acrescidos do trânsito congestionado pelo aumento de automóveis.
Eleito vereador em 1988, fui para Câmara Municipal com a idéia de mudar a história de "ônibus cheios para aumentar o lucro dos donos". Tinha na mão a oportunidade de fazer uma boa legislação, criando, pela primeira vez, um sistema de transportes público, e foi o que fiz.
Na Câmara Municipal encontrei com os vereadores Babá, Arnaldo Jordy, Socorro Gomes, Bento Maravilha, Vítor Cunha, Joaquim Passarinho e Zenaldo Coutinho, que eram independentes e tinham a mesma vontade de legislar para criar regras a favor de um transporte público de qualidade.
Nos unimos para aprovar o capítulo de transporte na Lei Orgânica de Belém. Recebemos apoio dos estudiosos da EMTU, empresa pública que a muito tempo estudava o problema, fomos auxiliado pelo grande Dr. José Maria Quadros de Alencar e ainda interagimos com os lideres populares do movimento de transportes, da CBB, Comissão de Bairros de Belém e do Sindicato dos Rodoviários .
Quando apresentamos nossas idéias na comissão de transportes, os donos das empresas de transportes, acostumados ao lucro fácil, como era de se esperar, não concordaram e organizaram a reação as nossas propostas. Foram meses de batalhas renidas. De uma lado o nosso grupo de vereadores, com apoio da população, querendo mudanças. Do outro lado, como apoio dos empresários de ônibus e contrários as mudanças, formou-se um outro grupo de vereadores, liderados sabem por quem? Nem desconfiam? Ele mesmo. Duciomar Gomes da Costa.
O atual prefeito Duciomar era vereador e juntou-se aos vereadores Eloy Santos e Adamor Filho para tentar, a todo custo, barrar nossas propostas de criação do sistema de transporte público de qualidade para Cidade. Com muita determinação, competência e apoio da população conseguimos, a muito custo, derrotá-los e criar na Lei Orgânica as regras para implementação da Frota Pública reguladora, a remuneração por quilometro e não mais por passageiro, o Fundo Municipal de Transporte, o conselho municipal de usuários, etc.
Os donos de ônibus, derrotados no Parlamento, conseguiram, através de acordos com os diversos prefeitos, que eram seus aliados, os quais eles tinham apoiado financeiramente nas campanhas eleitores, adiar o cumprimento do capitulo de transporte da Lei Orgânica de Belém.
Depois da eleição de Duciomar Costa, líder dos donos de ônibus na Lei Orgânica, o caos impera na cidade em prejuízo da toda a população. Agora ele, no final do mandato, quer perpetuar o poder dos seus patrões sobre a cidade, implantando o BRT Belém na marra.
Neste luta para implantar o sistema publico de transporte não podemos contar com a Câmara Municipal, a maioria dos vereadores de Belém é aliada dos donos das empresas de ônibus. Só quem pode nos salvar a curto prazo é uma boa investigação do Ministério Público do Estado. No longo prazo, aconselho aos eleitores que estude bem os candidatos a prefeitos e vereadores. Vamos votar em quem está do lado do povo, tem competência e indecência suficiente para decidir a favor das mudanças. Vereador que vive nas garagens dos donos de empresas de ônibus deveria era ser preso e não eleito.