Abaixo as Ditaduras

Se você tem idade abaixo de quarenta anos, o dia de hoje não significa muita coisa, pelo menos do ponto de vista emocional, mas quem tem idade um pouco acima sabe o que foi viver num país sem liberdades e sem democracia e o quanto foi sofrido lutar para derrubar o autoritarismo. A foto mostra uma parte do clima brasileiro nos anos de chumbo.

31 de março de 1964, os militares resolveram que o povo não sabia escolher seus governantes e tomaram o poder político no Brasil com o uso das armas. Impediram os partidos políticos de existirem, intervieram em sindicatos, proibiram reuniões e manifestações. Amordaçaram a Justiça e fecharam o Congresso Nacional.

Os anos que se sucederam foram de terror, prisões, torturas, mortes. Na economia, o país piorou e piorou muito. A inflação e a divida externa eram o terror das parcas economias do povo. Pela manhã, o simples gesto de comprar o pão para o café, significava um exercício de saber quanto era o preço, pois os produtos subiam de valor em plena madrugada.

Fantasmas, ossos, desaparecidos, ainda nos assustam. Figuras asquerosas como o deputado Jair Bolsonaro continuam nos fazendo lembrar os anos de chumbo. E o coronel Sebastião de Moura, preso por porte ilegal de armas durante uma busca e apreensão em sua residência, quando o Ministério Publico cumpria uma mandato para tentar esclarecer o caso da "Guerrilha do Araguaia".

Lembrar que hoje senta no banco dos réus, um remanescente do autoritarismo, ex-deputado Vavá Mutran, por duas vezes cassado, acusado de assassinato de um garoto de nove anos, não nos alivia a tensão. Protegido pelo regime autoritário Vavá Mutran foi o terror do sudeste do Pará por muitos anos. Decidia sobre a vida e a morte, como fez no caso do advogado Gabriel Pimenta e dos lavradores do Castanhal Ubá.

O tempo não sepulta os erros, apenas agrava suas consequências. Hoje recebo a noticia que o Governo do Pará, ocupado em 1983 por um partido que era o símbolo da luta contra os militares, o MDB, destruiu todos os documentos oriundos do período autoritário.

Jader Barbalho, Hélio Gueiros e Almir Gabriel, todos perseguidos pelo golpe de 1964, governadores de 1983 em diante, não foram capazes, lamentavelmente, de preservar para história, nem os atestados de residência, papel importante para os agricultores perseguidos no Araguaia , obterem do Governo Federal a reparação dos danos que lhes foram causados pelas tropas ensandecidas do Major Curió.

Torço pela Comissão da Verdade, me regozijo com a luta de Paulo Fonteles para apurar os acontecimentos da Guerrilha do Araguaia e conclamo a esquerda paraense que se una num projeto de memória deste período, uma ação coletiva com o sentido de preservar o sentimento de repulsa a todo o tipo de governo autoritário no Brasil. Quem sabe reproduzir o grito: Vai acabar, o que? Vai acabar, o que? A ditadura militar!!!
 

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