Registro em primeiro lugar, como cristão que sou, que considero um milagre o acidente ter ocorrido num sábado a tarde, fator decisivo para reduzir o número de vítimas. Mas, desde sábado que perguntas e versões sobre o desabamento se espalham pela Cidade. Quero compartilhar as coisas que ando ouvindo.
As licenças e as fiscalizações foram todas realizadas e realizadas de conformidade com as normas técnicas?
Houve denúncias de irregularidades registradas nos órgãos competentes? Qual as providências tomadas por estes órgãos?
O prédio deu sinais de problemas nas suas estruturas e estes sinais, se é que existiram, foram disfarçados? Se isso vinha acontecendo, a equipe de investigação descobrirá ouvindo os operários e testando material.
Preservar o material para prova é uma questão de fundamental importância para o processo que apurará responsabilidade objetivo. Lembro que o caso "Raimundo Farias" prescreveu por conta de uma manobra da defesa e descuido (não sei se proposital) dos investigadores. Levaram como peça de prova um pedaço de laje e os advogados questionaram a prova dizendo que era uma peça da casa ao lado, a polêmica sobre a prova e sobre de quem deveria custear novas perícias desta prova, aliado a outros fatores, arrastaram o processo por anos a fio, levando a prescrição penal e a impunidade.
A imprensa divulgou que ontem o Ministério Público foi até o escritório da empresa resgatar documentos fundamentais para as investigações, hoje a Coluna R70 noticia que as principais peças documentais estão nas mãos do Dr. Nagi Charone e não do MPE. Como é que é isso? Os membros do MPE estão acompanhados de corpo técnico realmente abalizados para coletar documentos e realizar perícias? Qualquer imperícia dos investigadores será usada em favor dos possíveis réus.
Muitas versões para as razões da queda estão sendo divulgadas. Claro que nem uma delas deve ser levada em conta, antes dos estudos técnicos. Mas algumas podem ser descartadas desde logo e outras estudadas com mais afinco.
1. Que uma ventania, de mais de quarenta quilômetros, teria acontecido no local e ganhando força pelo fenômeno do encanamento dos ventos causados pela quantidade de prédios na região. Se fosse essa a causa, o prédio teria tombado na direção do vento e não foi o que aconteceu, além do tal vento ter atingido outras construções ao redor, o que não foi o caso.
2. Disseram que uma grande quantidade de lajotas teriam sido armazenadas numa só laje e provocado um peso excessivo. Se fosse isso, obviamente apenas a laje teria desabado.
3. Levo fé nas especulações que indicam a possibilidade de erros nos cálculos estruturais. O erro pode ter ocorrido por vários fatores, dentre eles o fato de que naquela região passa o antigo canal da três de maio e o solo tem características específicas que não foram consideradas. Principalmente quanto a força hidrostática, segundo um amigo geólogo, quase nunca levada em conta pelos engenheiros calculistas.
4. Uma versão que ouvi, mas que me parece tão irresponsável que apenas registro, porém sem considera-lá até que surjam provas. Dissera-me que o prédio foi projetado inicialmente para 20 andares e que depois de obtido a primeira licença a empresa resolveu solicitar uma ampliação para mais 14 andares. Isso é possível? Pode ser, mas os órgãos responsáveis pelo licenciamento avaliariam tecnicamente antes de autorizar.
O importante é, depois do resgate dos corpos que ainda faltam, fazer um profundo trabalho de perícia técnica e tirar lições para o resto da vida.
Por fim, compartilho com vocês o que me disse, uma certa vez (desculpe se não for fidedigno, afinal foi numa conversa informal em São João de Pirabas) o engenheiro civil, poeta e compositor, Camilo Delduqe, "o verdadeiro amigo do homem não é o cachorro, mas sim o concreto, porque você pode maltratar muito que ele suporta sem reclamar" . Levando em consideração a frase do Dr. Camilo, deduz-se de imediato e sem o estudo das provas que a RealClass SPE maltratou demasiadamente o amigo do homem.
Não quero importunar, mas quero deixar aqui uma questão para reflexão de todos. A tragédia aconteceu e o município de Belém e o Estado transferiu para o local carros, equipamentos, pessoal, foram muito competente no atendimento as vitimas.
Tudo isso representa um custo altíssimo para o erário. A minha impertinente pergunta é a seguinte: quem pagará essa conta? O dono da empresa ou será rateada com o contribuinte? Apenas me respondam para que eu possa preparar meu curto orçamento domestico. Prestem bem atenção nisso, se tudo tivesse saído de conformidade com o planejado, os donos da empresa embolsariam sozinho R$ 500 mil vezes 68 apartamentos. Como deu errado, o custo da tragédia será pago por nos cidadãos? Será que isto é justo?
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