Debate sobre aquecimento global: Tereza Coimbra

Amigos, esse é o meu texto da semana e será postado no blog do Zé, aliás já tem dois lá. Primeiramente apresentaremos informações, depois postaremos nossas próprias produções, isto é a conclusão do debate.

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TEREZA COIMBRA

VEREADORA

UM POUCO DE REALIDADE NÃO FAZ MAL A NINGUÉM

Entrevistas Rio + 10

:: Bjorn Lomborg

Cientista dinamarquês, autor do livro "O Ambientalista Cético"

Por: RODRIGO AMARAL

da BBCO melhor caminho para preservar o ambiente nos países em desenvolvimento é ficar rico, segundo um dos mais polêmicos cientistas da atualidade.

O dinamarquês Bjorn Lomborg, autor do livro "O Ambientalista Cético", afirma que a preservação da natureza, hoje, é uma preocupação das sociedades que já deixaram problemas como a pobreza e a fome para trás - enquanto países como o Brasil ainda precisam ultrapassar esses obstáculos.

"É preciso entender que, quando organizações ambientalistas do Primeiro Mundo apontam problemas no ambiente, isso pode ser correto em seus países, mas não necessariamente nos países em desenvolvimento", afirma Lomborg.

Com base nesse raciocínio, ele defende que os países ricos financiem a preservação de áreas como a floresta amazônica. Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Bjorn Lomborg à BBC Brasil:

BBC Brasil - Qual deve ser a prioridade de países em desenvolvimento como o Brasil no que diz respeito a uma política pública para o ambiente?

Bjorn Lomborg - Não acho que é meu trabalho dizer quais devem ser as prioridades, pois essa é uma decisão democrática. O que eu tento destacar é que países em desenvolvimento geralmente têm problemas muito mais óbvios do que os ambientais. Eles enfrentam crises nas áreas de saúde e de educação, falta de água e saneamento e bastante pobreza.

Se a idéia é tratar as questões cruciais relativas ao ambiente, elas seriam a ausência de água potável e saneamento, por um lado, e a falta de ar puro, por causa da poluição. Em muitos países em desenvolvimento também há a necessidade de fornecer recursos para que as pessoas não tenham que usar muitos combustíveis poluentes, especialmente madeira, queimada nas cozinhas das casas. Isso provavelmente causa mais mortes do que a poluição do ar nas cidades mais poluídas do mundo.

BBC Brasil - No caso da falta de água potável, medidas para resolver esse problema não estão geralmente no topo da lista de prioridades de grupos ambientalistas, quando fazem campanhas para pressionar países em desenvolvimento. Mas é difícil simplesmente virar as costas para esses grupos.

Lomborg - Eu entendo que isso seja difícil, mas também acho importante que o Terceiro Mundo fale por si mesmo e não siga necessariamente o que pessoas no Primeiro Mundo pensam que é a melhor maneira de lidar com os problemas. Não há dúvida de que, a longo prazo, se tivermos os recursos, há várias coisas que gostaríamos de fazer da maneira correta nos países em desenvolvimento. Poderíamos nos preocupar mais com o uso de pesticidas e com os efeitos a longo prazo do aquecimento global, por exemplo.

Porém o problema é que há questões mais urgentes. Os países em desenvolvimento precisam deixar claro que, enquanto muitos dos seus cidadãos não souberem se vão ter uma próxima refeição, eles não vão se importar tanto com o que vai acontecer com o ambiente em 50 ou cem anos. Isso não é porque são más pessoas, mas porque estão numa situação ruim. É preciso entender que, quando organizações ambientalistas do Primeiro Mundo apontam problemas no ambiente, isso pode ser correto em seus países, mas não necessariamente nos países em desenvolvimento.

BBC Brasil - Esse tipo de argumento poderia justificar um aumento da exploração econômica da Amazônia?

Lomborg - Essa é uma questão local a ser decidida pelo povo brasileiro. Eu estou apenas destacando que a preocupação com as florestas tropicais é muito mais do Primeiro Mundo do que do Terceiro Mundo. A Europa devastou de 60% a 80% de suas florestas nos últimos mil anos e ficou rica nesse período. Eu acho um tanto hipócrita que digamos aos países do Terceiro Mundo que eles não podem fazer o mesmo.

Isso não significa, necessariamente, que o Terceiro Mundo deve cometer os mesmos erros que nós cometemos. Nós lamentamos que tenhamos devastado tanto as nossas florestas, mas na época parecia ser uma boa idéia. Levando em consideração que essa é uma preocupação dos países industrializados, o mínimo que deveríamos fazer seria pagar aos países em desenvolvimento para fazer algo que nós desejamos - como, por exemplo, preservar as florestas tropicais. O Brasil deveria dizer que vai manter intactas vastas áreas da floresta amazônica, mas, por outro lado, deveria também pedir o apoio do Primeiro Mundo para fazer isso.

BBC Brasil - O sr. acha que um dia vai surgir um consenso sobre esse financiamento da preservação do ambiente nos países mais pobres?

Lomborg - Eu espero que sim. Não sei se isso vai ocorrer tão cedo, mas acho que há um movimento nesse sentido. A solução a longo prazo para termos um ambiente saudável na Terra é que os países em desenvolvimento fiquem tão ricos quanto nós somos.

BBC Brasil - Há o risco de que isso não ocorra, e o ambiente continue a se degradar?

Lomborg - Há certamente algum risco. É improvável que testemunhemos os demais fatores econômicos entrarem em declínio. Com o passar das décadas, quase todo o mundo registrou um aumento dramático da atividade econômica, e isso também significou que bilhões de pessoas foram tiradas da pobreza. Nesse sentido, as coisas estão funcionando - embora possamos dizer que o processo esteja lento demais.

Quando se atinge um certo patamar de riqueza, é improvável que não se queira fazer algo pelo bem do ambiente. A longo prazo, vamos ser capazes de lidar com isso. Muitos dos países em desenvolvimento mais ricos já estão fazendo diferente, por exemplo limpando seu ar. Se verificarmos a poluição atmosférica em Santiago, no Chile, ou na Cidade do México, podemos perceber que houve um declínio na última década, simplesmente porque esses países, ao se tornarem suficientemente ricos, começaram a impor restrições. Eles estão afirmando que não querem esse imenso problema da poluição e pagam para não tê-lo.

BBC Brasil - O sr. tem acusados grupos ambientalistas de exagerar na divulgação de informações sobre os danos à natureza. No Brasil, é comum ver notícias sobre áreas do tamanho da Bélgica sendo destruídas na Amazônia. Há também exagero nesse tipo de informação divulgada no Brasil? Bjorn Lomborg - Há exageros com freqüência. Quando você lê algo no jornal é sempre, até certo ponto, exagerado, porque isso vende mais jornais ou aumenta a audiência. Isso não significa que não é verdade, mas sim que, freqüentemente, as pessoas não se esforçam o suficiente para ver quais são as estatísticas.

Quando falamos das estatísticas do Inpe sobre a porcentagem de floresta que ainda existe na região da Amazônia, a resposta é que 86% ainda está intacta. Isso significa que já foi derrubada 14%. Obviamente, gostaríamos de viver num mundo onde não tivéssemos nem isso, e é provável que mais de 14% sejam cortados no Brasil antes de o país se enriquecer o suficiente a ponto de não precisar cortar mais.Mas precisamos tentar entender o quanto esse problema é preocupante de verdade. Só assim é possível tomar decisões corretas sobre o quanto se deve investir nessa área, em vez de enfrentar outros problemas que também existem no Brasil.

BBC Brasil - O que o novo governo do Brasil pode fazer para que esse outro lado da história também chegue aos ouvidos das pessoas?

Lomborg - Eu acredito que a ciência e os dados estatísticos são a forma de aumentar o debate público sobre o problema. Eu não acho que alguém deve vir a público para apresentar algum tipo de "outra história" ou dizer simplesmente que está tudo bem. Só é necessário dar às pessoas os fatos. Eles têm a tendência de vencer os debates.

Não é surpreendente que sempre vejamos mensagens que dizem que as coisas estão ficando cada vez piores. Se você realmente pensar bem, para provar a devastação é só filmar os locais onde a floresta já foi derrubada. Freqüentemente, vemos organizações cujo principal objetivo ao divulgar esses dados é assegurar a si mesmas que elas estão trabalhando numa área importante.

BBC Brasil - Se o sr. fosse brasileiro, estaria pessimista ou otimista quanto à possibilidade de conciliar crescimento econômico com a proteção do ambiente?

Lomborg - Não sou muito familiarizado com a situação no Brasil, mas em geral há uma tensão entre a economia e a preservação do ambiente, que custa dinheiro. Há uma tentação de explorar a riqueza fácil agora e pagar por isso mais tarde. Foi o que fizemos no mundo industrializado, e agora estamos bastante preocupados com a questão ambiental.

Então, quando se atinge um patamar de riqueza, não há dúvidas de que aumenta a preocupação com o ambiente. Aumenta o gasto com a defesa da natureza e com a melhoria das condições ambientais. A longo prazo, sim, há bons motivos para se pensar que o Brasil vai ficar mais rico e vai atingir um ponto em que a população vai se importar de verdade com o ambiente.

fonte:RevistaÉpoca

QUEM ELE É

Economista dinamarquês, foi eleito como uma das pessoas mais influentes do mundo pelas revistas Time e Business Week e pelo Fórum Econômico Mundial. É vegetariano e ativista gay

O QUE FAZ

Pesquisador da Escola de Negócios de Copenhague, coordena o Consenso de Copenhague, projeto internacional para estabelecer prioridades globais

ÉPOCA – Os painéis da ONU reuniram milhares de cientistas de centros de pesquisas respeitados. Todos disseram que o aquecimento global é perigoso. Por que todas essas pessoas estariam erradas?

Bjorn Lomborg – Elas não estão. Claro que as mudanças do clima são um problema e que devemos tomar providências. Da mesma forma, os pesquisadores de malária dizem que ela é perigosa, deve ser erradicada e que nós somos capazes disso. Especialistas em aids dizem o mesmo. Basicamente, especialistas de qualquer área apontarão perigos e dirão que podemos evitá-los. Eu gostaria de viver em um planeta em que todos os problemas pudessem ser resolvidos. Gostaria de parar o aquecimento global, acabar com as guerras civis, erradicar as doenças infecciosas e a desnutrição, derrubar as barreiras ao livre-comércio, dar água limpa e condições menos insalubres para as pessoas. Já que não vamos resolver todos os problemas ao mesmo tempo agora, precisamos decidir as prioridades.

ÉPOCA – E como fazemos essa escolha?

Lomborg – No livro, analiso o que podemos fazer com o Protocolo de Kyoto (que prevê a redução das emissões de gás carbônico). É surpreendentemente pouco a um custo surpreendentemente alto. Se os Estados Unidos e a Austrália participassem e todos os já envolvidos cumprissem suas promessas, o Protocolo de Kyoto custaria US$ 180 bilhões por ano e adiaria o aquecimento global no final do século por sete dias. Isso não é muito. Mesmo se nós prolongássemos a redução nas emissões pelo resto do século, o adiamento seria só de cinco anos. Na realidade, o protocolo traz benefícios, mas não muitos. Estou envolvido em algo chamado Consenso de Copenhague, que reúne alguns dos mais importantes economistas, para analisar o que se atinge com as diferentes ações no mundo. Eles estimam que se você gastar US$ 1 com o Protocolo de Kyoto, o benefício será de 30 centavos. A maioria das pessoas consideraria isso um acordo ruim. Compare com o que se pode fazer contra a disseminação e pela prevenção do vírus da aids na África subsaariana, em que cada dólar gera outros 40 em benefícios.

ÉPOCA – Com as mudanças do clima, há grandes incertezas. Mas as conseqüências de não agir também são imensas. E se nós não pudermos esperar para fazer as comparações econômicas?

Lomborg – É importante dizer que definitivamente há certas conseqüências em jogo. Mas não está claro se o aquecimento global seria mais grave que outras ameaças. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 150 mil pessoas morrem por ano por causa das mudanças do clima, e isso vai piorar. Enquanto isso, 15 milhões de pessoas morrem de doenças infecciosas facilmente curáveis. Não sabemos os efeitos de não fazer nada contra a aids. Especialistas dizem que, se não fizermos nada quanto à crise da aids na África, nós veremos o colapso do continente. Seria um paraíso para o terrorismo, um lugar onde poderíamos ter armas nucleares e biológicas. É fácil imaginar o pior cenário possível. Não digo para não termos cuidado, mas nós não sabemos tudo sobre muitas coisas e temos de escolher em que vamos investir nosso dinheiro no próximo ano. 15 milhões de pessoas morrem por ano de doenças infecciosas

ÉPOCA – Qual seria uma idéia inteligente para lidar com o aquecimento global?

Lomborg – Até agora, nossas decisões sobre isso são basicamente promessas não cumpridas. Mesmo quando as concretizamos, elas são ineficientes. Veja a conferência de 1992 no Rio de Janeiro. Os países desenvolvidos se comprometeram a chegar ao ano 2000 com os níveis de emissões de 1990 e ficaram 12% acima disso. Em 1997, o compromisso foi ficar 5% abaixo dos níveis de 1990 e nós provavelmente ficaremos 20% acima. Essencialmente, o que nós fizemos foi repetidamente prometer cada vez mais e fazer cada vez menos. Não estou certo de que fazer promessas cada vez maiores é a abordagem correta, como a maioria defende.

ÉPOCA – O que o senhor sugere?

Lomborg – Minha solução é focar na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias de fontes de energia que não emitam carbono. Precisamos tornar as soluções mais baratas. Atualmente, energia solar custa dez vezes mais que combustíveis fósseis. Isso quer dizer que alguns ricos em países ricos vão instalar painéis solares para mostrar como são pessoas boas. Mas a maioria não o fará. E ninguém, ou pouquíssima gente, o fará em países pobres. Precisamos investir para que os painéis sejam baratos e possam competir com combustíveis fósseis.

ÉPOCA – O senhor calcula que o aquecimento global deve reduzir as mortes no inverno dos países mais frios. Por outro lado, isso não seria desastroso para países tropicais como o Brasil?

Lomborg – Na verdade, dados sobre São Paulo mostram que temperaturas mais altas levarão a menos mortes em geral na região. Não sei quanto à Amazônia. Temos dados escassos sobre países em desenvolvimento. A razão desse resultado é que a temperatura ideal para a maioria das sociedades é bem próxima da temperatura média do verão. Raramente essa média é ultrapassada.

ÉPOCA – Como o senhor gostaria de ser lembrado?

Lomborg – Gostaria de saber que contribuí para uma grande discussão da humanidade sobre o que fazer primeiro. Al Gore diz para encararmos as mudanças climáticas como a missão de nossa geração. Diz que é para pensarmos em como queremos ser lembrados por nossos filhos e netos, não só enquanto indivíduos, mas enquanto geração. Aparentemente, ele quer ser lembrado por ter feito o Protocolo de Kyoto ou até mais que isso. Mas me surpreende que ele queira ser lembrado por ter gastado US$ 180 bilhões por ano sem ter gerado virtualmente nenhum benefício para daqui a cem anos. A ONU estima que, com a metade dessa quantia, podemos resolver todos os nossos principais problemas, como dar acesso a água potável, boas condições sanitárias, cuidados básicos de saúde e educação para todos os seres humanos do planeta. Eu preferiria ser lembrado por isso.

 

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