A sessão do STF que julga o item de "lavagem de dinheiro", no processo conhecido por "mensalão", crime pelo qual o ex-deputado Paulo Rocha foi acusado pelo Ministério Público Federal e que o levou a um calvário e a uma derrota eleitoral, quando disputou o cargo de Senador da República, foi suspensa com o placar de 5 x 2 pela inocência de Paulo. Era a vez do ministro Celso Mello votar quando o presidente Aires Brito anunciou que o ministro Gilmar Mendes, ausente da sessão por compromissos importantes, solicitou votar na segunda-feira. O Decano preferiu, então, aguardar o voto de Gilmar para só então votar.
Assim, faltam apenas três votos: Gilmar Mendes, Aires Brito e Celso Mello para concluir o julgamento do Paulo. Se um deles acompanhar o revisor Ricardo Lewandowski, Paulo Rocha estará absolvido.
O resultado pela absolvição será justo com a história política de Paulo. Um rapaz humilde, filho de uma família de dezessete filhos, que veio de Terra Alta, naquela época município de Curuça, para ser aluno interno do Colégio Salesiano do Trabalho. Ali, Paulo estudou e aprendeu a profissão de gráfico, sendo o primeiro profissional a manusear a nova forma de impressão pelo processo off-set, e trabalhou para ajudar a construir a própria Escola. Foi carregando cimento nas costas, que o jovem franzino adquiriu um grave problema de coluna, que o acompanha até hoje, agravando com as tensões nervosas das crises políticas, as vezes o jogando diretamente na cama, sem poder movimentar-se como gosta. Quando Paulo recebeu a noticia do seu indiciamento no processo do mensalão, entrou numa crise de coluna que por pouco não lhe deixa imobilizado para sempre.
Ele chefiou as oficinas gráficas da Escola Salesiana ensinando aos jovens pobres da periferia da Pedreira e Sacramenta o oficio gráfico. Paulo começou cedo sua inclinação pela política. era ele quem cedia a gráfica da Escola para imprimir material dos movimentos sociais contra a ditadura militar. Acabou sendo preso pela Polícia Federal quando imprimia a histórica edição número cinco do Jornal Resistência.
Paulo Rocha foi autor da primeira foto colorida impressa em um jornal do Norte, O Liberal. Montou o laboratório da antiga Grafisa e de lá saiu para liderar o movimento de oposição sindical dos gráficos. Paulo trabalhava muito para se manter e ajudar a criar os irmãos, mas ainda sobrava tempo para fazer política sindical e depois partidária.
Vencemos três eleições sindicais no Sindicato dos Gráficos, tornando-nos uma referência para outros movimentos, e elegemos a primeira diretoria em 1983, da qual ele foi o presidente e eu o secretário geral. A nossa diretoria, por ser a primeira, teve a responsabilidade de apoiar outras oposições e a construção da Central Única dos Trabalhadores.
Paulo Rocha federal e Zé Carlos estadual, foi o voto de muitos companheiros trabalhadores aqui do Pará. No parlamento e na política, Paulo desenvolveu uma enorme habilidade de negociar , de ouvir, de agregar. Montou um grupo político que exerceu a maioria dentro do PT por muito tempo. Sempre foi conciliador e muito querido, inclusive por políticos de fora do PT. Paulo era o coordenador da bancada paraenses no Congresso Nacional.
Se Paulo não tivesse sido arrolado e denunciado no processo do mensalão, hoje ele seria Senador do Pará, com toda a certeza. Este prejuízo nunca será pago.
Paulo Rocha, acredito, será inocentado e retomará sua vida política, agora sem a companhia do fiel escudeiro Laércio Oliveria, falecido recentemente, vítima de câncer, mas com muitas lições tiradas deste doloroso episódio. Que Nossa Senhora de Nazaré te cubra de bênçãos e te proteja sempre, caro amigo.