Índios e negros

Belém foi um cidade tupinambá, mas também virou um terreno para o sofrimento de muitos negros. Segundo Vicente Salles: “Os senhores de escravos no Pará ficaram famosos, na crônica da escravidão, pelo rigor com que castigavam e maltratavam os escravos.

A Cidade até hoje deve o resgate da memória de índios e negros que aqui viveram, sofreram e construíram parte significativa desses 395 anos.

O texto “Tristes, mas diligentes” escrito em 1848 por Henry Walter Bates dá bem a dimensão da participação dos negros na história de Belém:

“Os negros do Pará são muitos devotos. Segundo me disseram, eles construíram aos poucos, com o seu próprio esforço, uma bela igreja denominada Nossa Senhora do Rosário. Nas primeiras semanas que passei no Pará, notei que uma fila de negros de ambos os sexo costumavam desfilar tarde da noite pelas ruas, cantando em coro. Todos levavam na cabeça uma pequena quantidade de material de construção – pedra, tijolos, argamassa ou tábuas. Fiquei sabendo que quase todos eram escravos, os quais, após um árduo dia de trabalho, estavam dando a sua pequena contribuição para a construção de sua igreja. O material era totalmente comprado com suas economias. O interior da igreja foi terminado cerca de um ano depois, tendo eu achado a sua ornamentação tão faustosa quanto a de outras igrejas feitas com muito mais recursos pelas antigas ordens religiosas, havia mais de um século. Anualmente os negros celebram a festa de Nossa senhora do Rosário, que em geral constitui um grande sucesso.”

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos fica na Padre Prudêncio esquina da Aristides Lobo, é uma obra atribuída ao arquiteto Antônio José Landi.

E os negros? Leandro Tocantins no livro “Santa Maria do Belém do Grão Pará” esclarece que:

“Pois foi Antônio José Landi o autor dos planos para a construção da atual Igreja do Rosário da Campina – assim chamavam-na os belemenses daquele tempo, em alusão ao bairro da Campina. No ano de 1767.

As origens da ermida são remotas e se ligam à existência da Irmandade do Rosário dos Homens Prêtos, fundada em 1682. Possìvelmente, nessa época, os Irmãos iniciaram a Casa de sua Santa Padroeira. Uma construção singela, demolida em 1725 por não oferecer segurança.

No mesmo ano a Irmandade fêz levantar outro templo, o qual, é provável, tenha sido uma reconstrução, aproveitando o arcabouçou antigo, pôsto que, notícia de 1761, fala na ‘estreiteza da mesma Ernida até nisso igual à primeira que demoliram em 1725’.

As obras da Igreja do Rosário, sob o debuxo de landi, devem ter ocorrido em ritmo lento. Ainda em 1848 a Irmandade completava o ataviamente interno graças à dedicação dos devotos negros, segundo observa o inglês Henry Walter Bates: ‘Durante as primeiras semanas de minha permanência no Pará eu encontrava freqüentemente uma fila de negros e de negrasm tarde da noite, caminhando pelas ruas, cantando em côro. cada qual levava na cabeça certa quantidade de materiais de construção: pedras, tijolos, argamassas ou tabuas. Vi que eram principalmente escravos, que depois de um dia de pesado trabalho contribuíam um pouco para a construção de sua Igreja’.

Talvez exista impropriedade na expressão do visitante britânico. Não se trata de ‘construção’ e sim de arremate ou aperfeiçoamento de obras internas.

Nesse aniversário de Belém que tal ir visitar essa obra tão carregada de história?

 

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