Belém vertical e sustentável

Crescer verticalmente trás enormes problemas ambientais e sociais, mas é o destino de Belém, que tem pouca espaço continental para crescer horizontalmente, por isso urge adotar medidas que garantam a nossa sustentabilidade como cidade situada na linha do Equador, em plena floresta amazônica.
Os prédios precisam de grandes áreas para serem erguidos, para isso as empresas adquirem casas com quintais, substituindo as áreas verdes, por áreas que serão impermeabilizadas. Perder o verde e ganhar impermeabilização do solo é só um dos males da verticalização.
A concentração de prédios em determinada parte da cidade faz aumentar a procura e a pressão por serviços públicos. A verticalização ainda traz a polemica sobre o aumento da temperatura da cidade.
O arquiteto Euler Arruda, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, afirma que o problema da ventilação, em decorrência do crescimento vertical da cidade, nem deve ser motivo de preocupações maiores. Afinal, segundo ele, os ventos sempre encontram caminhos naturais. Mas em outro trecho da matéria, publicada em do Diário do Pará, Arruda se contradiz e recomenda a não utilização de cor escura em pinturas e revestimentos, como pastilhas, granito e mármore. “A cor escura absorve e passa a irradiar o calor”, explica o arquiteto, assinalando que a cor clara, ao contrário, não absorve os raios infravermelhos, deixando assim de absorver e refletir as ondas de calor.
Se entendi bem o que disse o Arquiteto, o vento continuará circulando, porém aquecido pela contato com as enormes paredes quentes dos espigões.
Euler, com esse conselho, escapuliu do debate sobre aumento de temperatura na cidade, partindo para algo mais concreto, a pressão sobre os serviços públicos como água, esgoto e trânsito. Aproveito para acrescentar a lista de Arruda o transporte publico, o consumo de energia elétrica e a produção de resíduos sólidos.
O serviço de abastecimento de água em Belém é feito de forma precária, e a concentração de prédios, todos com cisternas e sistema de bombeamento próprio, esgotam a produção de água da cidade, deixando os bairros de periferias com dificuldade de abastecimento.
Belém mata seus rios todos os dias atirando neles toneladas de esgotos, sem tratamento, uma vez que apenas três por cento do esgoto produzido em Belém é tratado e pouco mais de sete por cento é coletado. As construtores cumprem a legislação ambiental da porteira para dentro, mas da porteira para fora não existe uma rede publica de coleta e nem sistema de tratamento do esgoto produzido pelos espigões. O resultado é a poluição completa da baia do Guajará, do rio Guamá, dos canais e igarapés, praticando-se um verdadeiro genocídio de espécies que habitam esses ambientes.
Para avaliar o problema de trânsito causado pela verticalização, basta lembrar que onde antes havia uma casa, com no máximo dois carros, surgiu espigões, com múltiplos apartamentos, com a mesma quantidade de veículos por habitação. Muitos edifícios não tem garagem suficiente para os moradores e muito menos para os seus visitantes, o resultado são engarrafamentos e carros estacionados nas ruas, além de pontos de táxis e congestionamentos.
Ao mesmo tempo que as ruas ficam tomadas por carros particulares, também ocorre um aumento de passageiros para o transporte publico, são os prestadores de serviços que crescem com a verticalização, as empregadas domesticas de todos os dias, os vigias, porteiros, serviços gerais. Essas pessoas se deslocam utilizando a mesma frota precária existente antes da construção do edifício.
Os prédios consomem muito mais energia que as residências, principalmente para movimentar a parafernália eletrônica da vida moderna, incluindo o ar condicionado necessário, mesmo seguindo o conselho de Euler Arruda na hora de pintar as fachadas.
O lixo é produzido em maior quantidade e de forma concentrada. Aonde havia uma casa e um balde de lixo, hoje, com a verticalização, temos o correspondente a muitas residências, com alto poder aquisitivo e um produção per capita bem maior de resíduos. É certo que a concentração permite a implantação de programas de reciclagem, com apoio do próprio condômino, mas isso é outra história.
A tendência a verticalização da cidade de Belém, na minha opinião, é um fenômeno inevitável, o que devemos exigir do poder publico são propostas concretas para solucionar cada um desses problemas. Construir a rede de coleta e o sistema de tratamento de esgoto é prioritário. Melhorar o serviço publico de transporte é urgente. Assim como a coleta e reciclagem de resíduos sólidos se torna indispensável para futuro de Belém.
A organização de um movimento "Belém Sustentável", formado por entidades, condôminos, estudiosos e ambientalista, pode significar muito para o futuro da nossa Cidade. Quer participar? Entre aqui e comente.



zecarlosdopv@gmail.com


 

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