Duas da manhã, Seu Pedro acorda com batidas fortes na porta da rua. Lá embaixo uma mulher grita pelo seu nome e, pela voz, parece bastante apreensiva:
- Seu Pedro. Seu Pedro. Ajude, por favor;
- Calma! Estou indo.
Pedro desce as escadas correndo para atender a mulher da voz aflita. Demora um pouco para abrir a porta e a mulher continua clamando.
- O que foi? Perguntou Pedro.
A mulher desaba num choro sofrido e quase gritando, implora ajuda:
- Seu Pedro, por favor, salve meu filho!
Pedro é um jovem de periferia que trabalha na recuperação de dependentes químicos, num dos bairros mais perigosos de Belém. Local onde o tráfico impõe suas regras.
Pedro acalma a mulher, pede para ela entrar e pergunta o que aconteceu. A mulher relata que seu filho, viciado em crack, está preso na casa de um traficante do Bairro.
- Ele está devendo e o traficante o prendeu para que pague o que deve.
- Se eu não conseguir dinheiro, meu filho será morto, seu Pedro.
- Salve meu filho, por favor! Gritava a mulher, desesperada.
Pedro então sugere que os dois se dirijam a delegacia do bairro e peçam ajuda a polícia. A mãe não aceita a proposta de Pedro.
- Mas por que não ir até a Polícia?
- Se formos a Polícia, o traficante vai saber e será pior, ele mata o menino. Tem gente dele dentro da Delegacia, seu Pedro.
Pedro conhecia bem o Traficante, afinal, foi criado no mesmo bairro e conviveu com o dono da boca desde criança, brincando pelas ruas dali.
Pedro tomou coragem, e então, com pena daquela mãe sofrida, foi até a casa onde o rapaz estava em cárcere privado negociar a soltura.
- Antônio, Antônio, é Pedro! Gritou forte ao mesmo tempo que batia na porta da casa.
- Qual é a tua? Perguntou Antônio, antes mesmo de abrir a porta.
- Preciso falar contigo. Disse Pedro.
O Traficante abriu a porta, de arma em punho e encarou Pedro.
- Tu não tens medo, não?
- Preciso que você solte o Rodrigo.
- Tu está te metendo no meu negócio. Este rapaz me deve 150 pilas de droga e ele só sai daqui se pagar, Não vou ficar no prejú e nem desmoralizar meu comércio.
Diante da insistência e apelos de Pedro, o traficante fez uma proposta:
- Eu solto o moleque se tu assumir a divida dele!
Pedro pediu um tempo. Foi em casa buscar um dinheiro que guardara para pagar uma prestação e resgatou o aflito rapaz. Depois, em sua casa, já pela manhã, Pedro convenceu a mãe a internar o filho em uma clínica para dependentes químicos, vaga obtida com apoio do Pároco Local.
(Os nomes aqui são fictícios, mas a história é real, aconteceu em Belém e me foi relatada em vista política ao Bairro que prefiro omitir o nome para preservar a pessoas)