Estava lendo o caderno policial do Jornal "O Liberal, logo na primeira página: "Um jovem foi assassinado com vários tiros na tarde de ontem no bairro de Maracacuera, em Icoaraci, Diogo Pinheiro de Lima, 18 anos…"; na outra: "Valdo Oliveira Brito Júnior, 19 anos, o 'Orelha'. está preso em Ananindeua por praticar assaltos em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém…"; "Megaoperação termina com 53 bandidos presos, a maioria de jovens". A Polícia prende muitos jovens, retirado-os das vistas da sociedade para lotarem as casas penais do Pará. Outros, simplesmente são executados pelos agentes do tráfico.
Enquanto estava entristecido e refletindo sobre ausência de futuro para juventude paraense, chega em casa uma mãe desesperada me pedindo socorro: "o que foi, amiga?" A mulher desabou em choro. As roupas, a pele, tudo nela são marcas de uma vida de sofrimentos provocados pelas restrições de bens matérias e a falta de acesso aos serviços básicos. Acalmei-a, e ela conseguiu falar: "Seu Zé, meu filho foi preso, está na Seccional de São Braz"; o filho tem dezoito anos e mal começou a vida. "O que ele fez?", pergunto. "Seu Zé, ele se meteu com umas camaradagens lá na Vila e, junto com um colega, assaltou uma senhora, estavam com um revólver de brinquedo, mas a policia nem quis saber e prendeu o David, veja o que o senhor pode fazer".
Fui para o telefone e para consulta na internet. Em pouco tempo estava com o decreto de prisão preventiva. O Juiz confirmou o flagrante e decretou a prisão dos dois envolvidos. Um já tinha passagem pela polícia, o David não. Uma fato me chamou atenção ao ler o inteiro teor do decreto, a redação parece ser padrão e baseada apenas nas informações policias. Não consta nos autos qualquer contato do Juiz com o preso, com a família do preso e nem um pequeno estudo sociológico do caso. Não. Simplesmente a letra fria da lei e a primeira prisão de um jovem de 18 anos estava consumada. Ele agora irá experimentar um pedaço do inferno e terá contato com bandidos muito mais perigosos que os maus colegas da Vila. David é mais um número na estática do aparelho repressivo . O Estado fez sua parte. A vítima está satisfeita. Os jornais podem imprimir mais um caderno policial com as noticias que acabará de ler.
Resolvo ajudar aquela mãe desesperada. Antes procuro saber como é sua vida, como vivem os seus filhos e que deu na cabeça do rapaz para assaltar. Ela é empregada doméstica e ganha um salário mínimo, única renda da família. O Marido está há muito tempo desempregado. Os filhos passam o dia na rua em companhia dos colegas. David é revoltado com o pai, que além de não trabalhar ainda bate na mãe e nos filhos. "O David quer comprar uma roupinha melhor, um celular, um tênis e não tem seu Zé, o que ganho é pouco e mal dá para comer, se meu marido pelo menos me ajudasse, mas não…"
O retrato daquela família, se é que se pode chamar assim, é o retrato da maioria das famílias cujo, filhos estão caindo cedo na criminalidade. O aparelho de estado não está ou não quer tratar seriamente esta questão. O Policial que prendeu os jovens, fez o que está escrito no seu manual. O juiz que prolatou a prisão preventiva, fez o que mecanicamente faz todos os dias.
O Governador do Estado pode fazer diferente. Que tal um programa arrojado para ressocializar jovens deliquentes? Vamos começar por aqueles que estão sendo presos pelo primeiro delito, acredito que estes ainda tenham chance de recuperação. Esse jovem David pode até pegar um castigo na prisão preventiva, mas se não for acolhido pelo braço amigo das políticas inclusivas, será abraçado definitivamente pelos criminosos, tronando-se cada vez mais violento, perambulando de presidio em presidio, até encontrar a morte, que virá pelas balas da polícia ou montada na garupa de uma motocicleta do tráfico.
O nome pode ser pró paz, mas os investimentos devem ser de guerra. Doutor Simão Jatene tire a juventude paraense das mãos dos traficantes, por favor.
* nome David e a história são fictícios e qualquer semelhança com a realidade será uma mera coincidência.