Quando os sinos tocam na Igreja da Sé e o apito do coordenador do Círio soa é hora do início da grande procissão. Os romeiros se espremem uns contra os outros para ficar mais perto da Berlinda. A curva da João Alfredo com a Portugal é díficil. Os soldados fazem uma barreira e só passa a Berlinda, os romeiros que vieram da Sé ficam para trás, até o atrelamento à corda. Os promesseiros da corda estão desde a madrugada esperando o momento mágico de conduzir a santinha, é muito díficil participar da procissão na corda, é quase desumano. Atrelada a Berlinda a procissão segue lentamente, às vezes passa-se muito tempo para caminhar poucos metros. Na Castilho França, muitas homenagens: Geleiras, peixeiros, vendedores do Ver-o-peso, todos querem demosntrar o amor por Nossa Senhora. Os pés dos romeiros já estão enlameados, olhar para os pés das pessoas é apreciar a diversidade. Cada dedo é diferente do outro do próprio pé e não tem igual em pé algum, e olha que são muitos pés, é o dobro das pessoas que acompanham a romaria. Me encanta ver como as pessoas são bonitamente diferentes. Passando a Feira, o povo se prepara para ouvir a sirene da Folha do Norte e os fogos dos estivadores e arrumadores. O palanque do Governo do Estado, alí na Estação das Docas, sempre tem uma cantora e uma orquestra, sem contar as autoridades acompanhadas dos seus puxa-sacos, que adoram uma boquinha. Mas tudo é perdoado nesse dia santo. Subindo a Presidente Vargas nos encanta o imponente prédio da CDP, nessa altura o calor e o cansaço já fizeram muita gente desmaiar, aumenta o número de maqueiros, uns preparados e outros só atrapalhando a passagem da procissão. No Banco do Brasil a Santa pára para receber mais uma demonstração de carinho. Eu, que vinha colado a Berlinda, me distancio e sigo na direção do Santuário, vou rezando e olhando a multidão e registrando quem está nas janelas, debruçado nos seus parapeitos. Olho os palanques, recebo uma garrafinha de água, tomo o líquido e levo o vasilhame até encontrar uma lixeira, os pés reclamam quando pisam numa tampinha ou em qualquer outro objeto deixado para trás. Chego antes da Santa, rezo e vou para casa, morto de cansado. Cumpri minha obrigação e estou pronto para enfrentar o novo ano.