Belém, minha Belém.

Neste aniversário de Belém, 392 anos, fiquei nostálgico. Lembrei da minha infância vivida no bairro do Guamá, estudava no Grupo Escolar Frei Daniel e morava na Rua 25 de Junho nº 45, próximo a Epitácio Pessoa. Meu pai trabalhava no Armazém o Vesúvio, que era uma das muitas mercearias de importados que existia aqui. Nessa época não havia supermercados, o primeiro que me lembro foi o Supermercado Banna, alí em frente a Celpa, depois vieram o Opsum e o Supermercado São João. Todos os dias papai trazia alguma coisa importada de Portugal que vendia no "O Vesúvio", era azeite em lata de 5 litros, maçã, pera e uvas de boa qualidade. A movimentação maior acontecia nos Armazéns do Snapp, alí onde fica a Estação das Docas. Quando chegava um návio, então. A música do Antonio Carlos Maranhão, Nega, retrata bem o clima: "quando o návio apita a pensão se agita"
No Guamá a vida era pacata. Os dias amanheciam com as crianças indo a padaria comprar pão e manteiga para o café da manhã. Nas casas a movimentação era grande: apaga as lamparinas e os cadeeiros, desarma as redes, leva o urionol para jogar no mato, faz o café, enche os potes que amanheceram secos, abre as janelas e as portas, solta as criações para mariscar.
Feitas as primeiras tarefas era hora de varrer a calçada e trocar um dedo de prosa com a vizinha, saber das novidades e assuntar sobre um barulho que veio do quintal alheio. O rádio ligado em uma das estações da época, tudo AM, Rádio Liberal, Marajoará, Guajará ou PRC5, para ouvir a retrospectiva da madrugada: bandido Zequinha da Estrada Nova aprontou mais uma; bandidos da luz vermelha atacam na Matinha; confusão na zona do meretrício: no Bar São Jorge meretriz briga por causa do amante; visagem pega táxi e salta em frente ao Cemitério de Santa Izabel assustando o motorista, etc.
Quando o dia realmente amanhecia, aí por volta das 8:30hs., era ora de ir a feira do Guamá ou ao Ver-o-peso. Comprava-se comida fresca todo dia, não tinha geladeira, pois não tinha luz. Na feira escolhia-se o peixe, a carne ou visceras, galinha não! pois galinha era almoço de domingo, guisada com batatas, salada de alface com pepino, purê e macarrão, impreterívelmente. Após o almoço a cidade adormecia e só acordava para o café das três. As tardes eram mais sossegadas. A boca da noite nossos pais colocavam a cadeira na porta para nos contar estórias de alma penada e de outras assombrações. Quem gostava de dançar ia para as festa do "Estrela do Norte" ou dos "Carroceiros", duas sedes consideradas no Bairro. Assim era vida em Belém, preguiçosa! Gostosa! Final de semana chegando, o que fazer?
As programações de final de semana podiam incluir um banho no igarapé Três Tubos, alí na Maracangalha. Um brinquedo na Praça Kenedy. Uma pipoca na Praça dos Pescadores vendo os botos darem um verdadeiro show na Baia do Guajará. Uma tarde no Bosque Rodrigues Alves ou no Museu Goeldi. Uma sessão no Cinema Independência. Teve uma época, mais recente, que íamos ver a escada rolante inaugurada no Terminal Rodoviário e depois tomar um lanche no Café Palheta. Há! uma programação imperdível era ver os aviões no aeroporto Val-de-cans.
Ah! Depois Eu falo dos passeios pela João Alfredo e do sanduíche de leitão do Café Santos, no tempo que os ambulantes ambulavam vendendo apenas sacolas, serra de unha ou cadernos na porta da 4 e 400.
Belém, linda Belém.
 

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