O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL É UMA PERSPECTIVA DE INTERLOCUÇÃO DOS VERDES DO BRASIL
(04/02/2009 - 11:24)
Desde o meu último ano na Faculdade de Economia participei do Fórum Social Mundial. Nunca me esqueci do primeiro Fórum, sem dinheiro, sem financiamento, fui parar no Acampamento da Juventude, muita liberdade, mas também algum desconforto aquelas barracas, aqueles banhos foram inesquecíveis. Logo depois me elegi vereador, perdi um pouco daquela liberdade do acampamento mas ganhei um pouco mais de conforto. Entretanto em todas as edições, sempre uma pergunta ficava sem resposta: por que os Verdes não estavam presentes de maneira ostensiva? Eu não fazia essa pergunta apenas a mim mesmo. Na verdade, muitas organizações e amigos do movimento ambientalista me perguntavam, bastava começar o Fórum, e lá vinha a pergunta: onde é a tenda do Partido Verde? Em qual local realizaremos nossas palestras e grupos de discussão? Onde serão nossas oficinas? E infelizmente, mesmo com esforços esporádicos de um ou outro dirigente e parlamentar, eu sempre ficava inventando desculpas por não estarmos ali, ao menos para dialogar com as diversas organizações dos movimento social e ambiental.
Internamente, alguns tentavam me explicar que o Fórum era um “teatro armado do PT”, outros me diziam que o Fórum era um encontro de marxistas, socialistas e comunistas, e que nós Verdes já tínhamos passado desta fase, como se tudo que estivesse olhando e sentindo naqueles encontros fosse um “museu de velhas novidades”.Na prática nunca olhei por este ângulo. É evidente que o modelo de organização permite de tudo, e assim, temos muitas peças deste museu presentes, mas no tocante ao nosso programa e nosso ideário, a cada fórum que se realizava eu sentia que tínhamos perdido uma grande oportunidade de nos colocar como interlocutores de vários grupos e organizações que estavam ali apenas para difundir o que faziam em seus microcosmos e que não tinham se quer um braço político para os ajudarem. E a grande maioria acentuava as diversas dificuldades que lhes eram apresentadas pelos partidos “produtivistas”, que nunca levaram a variável ambiental a sério, procuravam portanto um partido que oferecesse essa possibilidade de diálogo.
Mas tudo isso era apenas uma tese, uma possibilidade, que agora após o Fórum de Belém, pude perceber que é uma realidade através do esforço coletivo de pessoas como Zé Carlos (Presidente do Partido Verde do Pará e Membro da Fundação Verde Herbert Daniel), Marco Antônio Mróz (Presidente da Fundação Verde Herbert Daniel), do Presidente Nacional do Partido Verde José Luis de França Penna, da dirigente Nacional Vera Motta, que não mediu esforços para colocar no ar ao vivo e em cores a TV DO PV, que possibilitou 7537 acessos durante o Fórum, dos Jovens da Executiva Nacional da Juventude, diversos dirigentes do Partido no Pará, e muitos outros membros da Nacional e da Fundação que mesmo a distância contribuíram para que participássemos pela primeira vez institucionalmente do Fórum Social Mundial. Digo uma realidade pois em nosso espaço de discussão, em nenhuma das mesas temáticas, restou sequer uma única cadeira vazia. Em todas elas discutimos temas importantíssimos para o futuro do Planeta e conseguimos dialogar com diversos atores sociais que antes eram alheios a uma interlocução com os Verdes, como por exemplo, diversos professores Universitários, presidentes de organizações ambientais, representantes de entidades de economia solidária, parlamentares de diversos países, e por que não dizer, uma presença marcante de membros de outros partidos (não sei se para nos vigiar, ou para realmente propor uma iniciativa de diálogo). Em síntese, conseguimos dar nosso primeiro passo junto as pessoas que participam do Fórum. Marcamos nossa presença e nos colocamos disponíveis para o diálogo. Agora penso que o desafio seja ampliar nossa participação no próximo e manter esses canais de diálogos abertos.
Em relação aos conteúdos discutidos, percebemos que a crise, ao contrário do que alguns Verdes têm dito, nos abre diversas portas pois em todas as discussões o consenso se dava no que se refere ao deslocamento da economia em relação à política, e esse mesmo deslocamento levou os sistemas financeiros a acelerarem seu caminho em direção ao abismo, cujo fundo do poço é um sistema de papéis sem lastro. É evidente que em diversas mesas de debate não faltou os gritos dos antiamericanistas, dos velhos desejos autoritários de Stalinistas ressentidos. No entanto, de uma forma geral, me pareceu que o recado era simples e claro: é preciso ampliar nossas formas de articulação e de comunicação para assumirmos uma papel fundamental nesta crise. A grande maioria das organizações presentes no Fórum concordavam que agora é o tempo da Regulação e o grande pilar que segurará esta regulação é a Ecologia. Ouvi em diversos lugares uma pergunta que me chamou atenção: o que ecologia senão um sistema de regulação? Isto porque ela regula de um lado as relações entre cultura e natureza, mas de outro as relações entre países, tocando decisões globais importantes como o controle da emissão de CO2 ou das mudanças climáticas.
O sentimento de todos era visível: o renascimento da Política como uma forma de regulação do sistema financeiro. Era possível perceber nos debates, nos bares, e nas conversas de corredor, que não dá para pensar a economia sem levar em conta suas conseqüências sociais, sem falar em sustentabilidade e sem considerar a ecologia. Neste sentido, nós Verdes do Brasil, seremos convocados a nos manifestar. Temos uma imensa possibilidade em nossas mãos pois a variável ambiental é a única vertente política capaz de gerar movimentos cada vez mais fortes na sociedade para colocar limites aos interesses econômicos, para conter os desequilíbrios da Globalização. Juntos com os movimentos sociais e ambientais, precisamos nos colocar como um possível porta voz de suas causas, e assim fortalecermos o Estado, pois até que provem o contrário, esta crise deixou apenas uma verdade no ar: não existe economia de mercado sem a presença do Estado, e esse mesmo Estado deve ser o protagonista de uma melhor distribuição das riquezas e um propulsor de uma sociedade menos consumista, cujas ações exigirão um grau de generosidade com as futuras gerações.
Maurício Brusadin -Secretário Nacional da Juventude – Partido Verde Brasil