Cassados pela ditadura recebem mandatos de volta


Foram anos violentos. A ditadura tinha dois carimbos com os quais carimbava os adversários do poder. Uns eram carimbados como subversivos. Outros, como corruptos. Aqueles tinham a solidariedade da sociedade e seguiam lutando. Estes, no entanto, eram descriminados e não tinham defesa. Disse Jarbas Vasconcelos, ao discursar em nome da OAB Pará. Para Jarbas, os dois carimbos eram cruéis para aquele que sofria a marca, pior para os que foram considerados corruptos.

A sessão solene solicitada pela OAB Pará e pelo conselheiro Nelson Chaves, organizada pela Assembléia Legislativa, neste dia 18 de março, começou as dez horas com o plenário e as galerias tomadas de políticos, advogados, jornalistas e populares. Os presentes estavam ali consciente do fato histórico que iria se desenrolar na sala das sessões do legislativo estadual.

"Esta sessão é também um recado para aqueles que são ocupantes eventuais do poder, para que saibam que o pior julgamento é o julgamento feito pela história", foi o recado de Jader Barbalho, repetido, enfaticamente, por três vezes, para não deixar duvidas da intenção do orador.

Jader destacou a figura humana do governador Aurélio do Carmo e homenageou o pai, Laércio, o único deputado cassado pelo Ato Institucional n.º 05. Endureceu o discursos para dizer que a Assembléia Legislativa do Pará foi conivente com o Golpe  de 64 ao cassar membros do próprio parlamento local. Poucos são aqueles que resistem e lutam, a maioria dobra a coluna diante do poder, concluiu Barbalho.

O governador em exercício fez-se representar pelo secretário Sidney Rosas. Outras autoridades presentes testemunharam que tinham pessoas pouco à vontade com a homenagem, principalmente aqueles que apoiaram o Golpe e deles receberam benesses e cargos públicos. Cargos que os guindaram em suas carreiras públicas.

O momento, porém, não é de vingança ou perseguições. O passado deve ficar na conjuntura em que transcorreu, permitindo que venha do fundo escuro apenas a verdade dos fatos para preencher o vazio histórico deixado pelo arbítrio, foi a tônica dos pronunciamentos.


Aurélio do Carmo, aos noventa e um anos de idade, visivelmente emocionado, recebeu, do presidente Márcio Miranda, a faixa de Governador do Estado, cargo para o qual foi eleito com mais de 70% dos votos e dele foi apeado por força do arbítrio.

A OAB aproveitou a sessão para pedir que o Governador do Estado, a exemplo de outras unidades da Federação e da própria União, envie para Assembléia Legislativa a mensagem criando no Pará a comissão da verdade para apurar e apresentar aos familiares os corpos daqueles que foram mortos na Guerrilha do Araguaia.
 

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