Serra Pelada fevera em agosto


Acumular tesouro, enriquecer, encontrar ouro. Estes sonhos levaram pessoas a percorrerem caminhos longínquos, difíceis, cheios de perigos, em condições bastante adversas,s fizeram longos percursos na década de oitenta, em busca do eldorado.

O Brasil estava mergulhado em um golpe militar quando pessoas, sonhando com riqueza, encontraram ouro em um riacho, numa região remota do sudeste paraense. Nascia o maior garimpo do país, Serra Pelada. Logo, logo, milhares de homens de todos os cantos do País foram atraídas para lá.

Os militares, preocupados com o aglomerado de pessoas e com a preservação dos direitos minerários da estatal Vale do Rio Doce, destacaram para Serra um militar de escol, membro do serviço de inteligência e figura ligada ao conflito político denominado Guerrilha do Araguaia. Este militar era Sebastião Curió de Moura, o Major Curió.

Curió primeiro tentou retirar os garimpeiros de Serra Pelada. Não conseguindo, organizou o Garimpo para garantir que todo o ouro encontrado fosse vendido para o Governo. Com apoio dos militares, tornou-se o verdadeiro dono de Serra Pelada, decidindo quem entrava, quem permanecia e, diziam, até que merecia viver.

Os militares perderam o poder no País. Curió, bandeou-se para o lado dos garimpeiros.  Com apoio deles, foi eleito deputado federal. O major Curió criou a COMIGASP - Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada. Lutou para os garimpeiros passassem, através da cooperativa, a ter a propriedade da Serra Pelada. Usando metáforas, o Major, agora deputado federal, foi impulsionando o sonho de riquezas daqueles homens, e alimentando o próprio poder político.  Emancipou a região, criando o município de Curionópolis, de onde foi prefeito por diversas vezes até ser afastado e derrotado por adversário.

Os garimpeiros ficaram com as brigas em torno dos sonhos. Uma é explorar a mina de forma mecanizada. A outra é receber da Caixa Econômica Federal a restituição de ouro e paladium, objeto de uma demanda judicial, cujo valor está estimando em R$500 milhões.

Para mecanizar a mina, a diretoria da COMIGASP se associou a uma empresa canadense de nome COLOSSUS. A empresa investiu em equipamentos, perfurou túnel, montou as máquinas para processor as rochas e retirar o metal, mas uma divergência contratual levou tudo a estaca zero. Os garimpeiros afirmam que autorizaram a diretoria da Cooperativa a assinar um contrato com a empresa, prevendo um percentual de 60%  do lucro da venda dos metais para a empresa e 40% para os garimpeiros. A empresa, porém, apresentou um contrato  modificado onde a parte dos garimpeiros caiu para 25%. O resultado desta polêmica foi a queda da direção da cooperativa, e uma intervenção foi nomeada. Para encerrar a intervenção, nova eleição está marcada para 10 de agosto, quando várias chapas se enfrentarão nas urnas.



Enquanto isso, os sonhos alimentados pelos garimpeiros e embalados por Curió, continuam contagiando almas como a de seu “Alumínio", um negro maranhense, tratorista, que entrou na Serra na década de 80, com 22 anos de idade, e até hoje permanece por lá. Também embalou e embala os sonhos de seu “Bola Sete", um paraibano, que todos os dias dá uma voltinha pela Vila, indo de casa até a freirinha onde compra um pedaço de jerimum e umas folhinhas de couve que adubarão o almoço. 


"Bola Sete”, conta histórias e vende versões sobre o ouro. Milhomem, outro pioneiro do garimpo, é  um líder entre eles e candidato a eleição para diretoria da Coomigasp, mora em Eldorado dos Carajás, gosta de rimar tudo que fala e também dirige o blog: http://www.serramil.com/ pelo qual divulga suas ideias e noticia as derrotas dos adversários.



O Estado do Pará nunca soube tratar os garimpeiros de Serra Pelada. O Governo Federal usou o ouro de Serra Pelada para melhorar o saldo na balança comercial brasileira e garantir lastro para o Banco Central. A muito tempo o Governo deve uma solução para vida das muitas pessoas humildes que ainda hoje estão a esperar um dia novo e dourado com que tanto sonharam. 


Na vila de Serra Pelada vivem oito mil garimpeiros em torno da cava e do rejeito. Envelheceram por lá. Passam os dias como se guardassem o ouro que tanto buscaram. Enquanto a riqueza não vem, suas forças vão esvaindo-se com a mesma rapidez como que ingerem o mercúrio que vem na água, nas frutas e nos legumes que plantam no solo contaminado. 
 

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