No domingo, 13, realizou-se em Belém mais um Círio em honra
à Virgem de Nazaré. No último domingo do mês de novembro será a hora de
homenagearmos Nossa Senhora da Conceição, em Santarém. Muitos pedidos são
feitos e atendidos, e na romaria do Círio é que se paga o prometido à Santa
Padroeira.
Acompanhei o Círio de Belém e, vendo os promesseiros,
questionei-me: onde está o limite entre aquilo que é nosso dever individual e
coletivo de seres humanos, e o que podemos rogar pelo auxilio da divindade? Sendo
ainda mais preciso: o que é da nossa competência fazer com as nossas próprias
forças, o que devemos exigir como obrigação do Estado e o que se deve pedir às
forças divinas?
Você, alguma vez, já parou para pensar sobre isso?
Vi pessoas carregando cadernos e fui até elas para saber o
motivo: pediam para passar no vestibular de uma universidade federal. Um pedido e tanto, pensei. Sim, porque hoje,
com a qualidade do ensino público e as cotas, passar num vestibular de uma
universidade pública, ainda mais federal, não é simplesmente estudar.
Estudar, e estudar muito, é a obrigação primeira de cada
aluno. Sem estudar, nada feito, nem milagre dá jeito. Mas e se o estudar aqui,
for em uma escola pública, o Estado tem obrigação de ofertar salas de aula
confortáveis, dotadas de recursos didáticos e de professores dignamente
remunerados. Mas e se o Estado não fizer a sua parte? Cabe aos pais dos
estudantes se unirem e reivindicarem escolas de qualidade. Podem, ainda,
demitir os políticos imprestáveis ou votar em políticos sérios e comprometidos
com a qualidade do ensino público.
Quando estava nessa parte do texto, dei-me conta de que
havia algo errado nesta minha polêmica. A pergunta seria: por que deve haver
vestibular para que as pessoas ingressem em uma universidade pública de
qualidade? Não haveria vestibular se o Estado garantisse ensino público de
qualidade em todos os níveis, com vagas suficientes para as demandas
populacionais.
Os jovens de hoje, para cursar o terceiro grau encontram
maior dificuldade que os jovens de antigamente. A disputa é maior, criaram-se
regras para incluir os excluídos, as chamadas cotas, mas esqueceram de ofertar
mais vagas nas universidades públicas.
Sem eleitor consciente, sem governos competentes e com
poucas vagas em disputa, só resta às nossas moças e rapazes pedirem a
intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus, seja do Perpétuo Socorro, Nazaré ou
Conceição.
* Publicado originalmente no Estado do Tapajós