Fundaram Belém, e os índios, para onde foram?


No cair da tarde do dia 11.01.1616, quando os índios tupinambás saiam para um banho de igarapé, no velho e frio igarapé do Peri, avistaram três enormes embarcações paradas na baia do Guajará. Foi um alvoroço nas tribos. Nesta noite ninguém dormiu por ali.

A notícia correu a beirada do rio Guamá, foram avisar o cacique Guaimiaba, (cabelo de velha para os mais íntimos) que estava no centro da aldeia principal, próximo do igarapé das Almas. Guaimiaba reuniu seus guerreiros, convocou os pajés e consultou os adivinhos, mas nenhuma resposta obteve. De onde vem estas coisas estranhas que correm por sobre as águas?

Guaimiabá despachou um grupo para olhar melhor e ver o que estava se mexendo dentro daquelas estranhas igarités gigantes. Da beira, olhando por entre os matos, lá pelas bandas do Tapanã, o grupo avistou homens que escondiam as vergonhas, mas viu que dentro das gigantes igaratés tinham índios e voltaram com a noticia ao "Cabelo de Velha".

O Cacique montou plantão com seus guerreiros por toda a noite. Velaram as igarités com um misto de medo e curiosidade, mas certos de que nada mais seria como antes. O futuro lhes reservava muitas surpresas, foi apenas isso que disse o fogo sagrado, consultado pelo pajé.

Na manhã do dia 12.01.1616, as igarités atracaram e delas desceram os estranhos homens pálidos, vestidos dos pés a cabeça e com aquele olhar de cobiça.


Nunca mais as vidas daqueles habitantes e donos destas terras foi a mesma. Os homens pálidos fundaram Belém. E os índios, para onde foram?

O fantasmas do cacique Cabelo de Velha e de seus guerreiros andam por ai pelo Jurunas, pela Estrada Nova, pela Condor e, principalmente pelo Guamá. Alguns destes espíritos encanam até hoje no povo humilde de nossa cidade.

Os pajés botaram mandinga nos poderosos. Nunca mais houve paz entre eles. Enquanto Guaimiabá não for vingado, haverá briga, desavença e divisão entre os homens pálidos.

Lemos contra Lauro. Barata contra Assunção. Alacid e Jarbas brigaram feio. O próprio Caldeira Castelo Branco saiu daqui preso. Pedro Teixeira e Bento Maciel Parente sempre brigaram. Jader e Hélio e Almir Gabriel cumpriram a sina ditada pelo espirito do guerreiro assassinado.

As brigas entre os descendentes dos que ocupavam o caravelão, o patacho e o lanchão sempre vai existir até o dia em que a história de Belém for contada por aqueles que estavam na praia e moravam nas aldeias.
 

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