Um mãe estava no lugar errado, na hora errada, quando um grupo, armado, executou-a, depois de também executar seu filho. Tudo estava dito se não fosse por um detalhe, a mãe estava em sua casa, em Benevides (cidade pacata da região metropolitana de Belém, preferida por abrigar conventos e mosteiros) arrombada pelo grupo de extermínio.
O alvo do grupo era o filho dela, mas a mãe estava lá. Deitada. Dormindo, afinal eram 01 hora da manhã. Nessa hora, as pessoas dormem. Seria uma testemunha, por isso foi executada também.
As execuções na grande Belém tornaram-se uma rotina.
Todos os dias executam alguém. Muitos são viciados em drogas com altas dívidas contraídas junto a traficantes que dominam os bairros periféricos. Outros são presidiários e tem passagens pela polícia.
As pessoas desinformadas podem até pensar como pensam os brutos, bandido bom é bandido morto. Podem até festejar as execuções. Afinal, pensam, cada bandido que morre, é um a menos para praticar assaltos contra pessoas honestas.
O que as pessoas honestam não refletem é que as execuções de bandidos tem um endereço certo, aumentar a violência contra os cidadãos honestos. Como?
A execuções são feitas para dar exemplos. Para forçar que os viciados e presidiários tornem-se membros efetivos das quadrilhas. Paguem suas dívidas cometendo assaltos e com o fruto dos roubos, paguem o que devem. Depois, contraem novas dívidas e voltam a assaltar para continuar pagando pelo vício.
As execuções são o combustível da violência. Uma engrenagem viva que mantem o níveis de violência sempre altos, vitimando as pessoas honestas de Belém e de outras metrópoles.
Os traficantes alugam armas para assaltos. R$30,00 ou R$50,00, dependendo da hora. Se o adolescente, recrutado para o crime, perder a arma ou for preso, não tem problema, quando sair, deve voltar ao crime para pagar a arma perdida. Se se recusar, ai não tem outra forma de cobrança mais eficiente, é executado pelo bando. A execução não paga a dívida, é verdade, mas serve de exemplo para outros devedores e isso é o que matem o negócio do crime funcionando a todo vapor.
Quando acontece uma execução, o noticiário diz que a polícia chegou, fez a perícia, removeu o corpo e abriu investigações. O roteiro é o mesmo. O jornalista polícia pode até fazer um ctrl c, ctrl v, enxertando o texto no meio da sua reportagem e ninguém notará que aquela parte da notícia referia-se a execução de um rapaz no Tapanã, no PAAR, ou em Marituba. A polícia faz tudo isso sim, exceto investigar.
Nós estamos entre a cruz e a caldeirinha. Ao festejar as execuções, estamos aplaudindo o sistema que nos atingirá com o aumento de assaltos praticados por aqueles bandidos que, para não morrer, obedecem as ordens das quadrilhas.
Isso não é novo, foi exportado do Rio de Janeiro, de onde muitos traficantes migraram depois da ação de pacificação e vieram estabelecer seus negócios por aqui.
Se o Sistema de Segurança Pública do Pará cortar o mal pela raiz, destruindo de vez as organizações criminosas, inclusive prendendo e expulsando policias que se envolveram com eles, agora, enquanto pode, teremos um novo futuro. Mas, se ao contrário, continuar aplaudindo as execuções como se fosse um bandido a menos, pagaremos o mesmo preço que o Rio de Janeiro pagou durante longos anos.