* José Carlos Lima
O Pará tem muitos
problemas, muitas dificuldades, muitos empecilhos para o crescimento de sua
sociedade, mas também possui uma enorme variedade de produtos e pessoas que
podem ser transformados em soluções capazes de superar a pobreza e a
desigualdade que nos persegue desde o dia em que decidimos ancorar nossa
economia somente na mineração, no boi e na madeira.
O Pará é um estado diverso
no clima, em biomas e pessoas. Temos o cerrado, a floresta amazônica, salinas e
até pradarias. Os nossos corpos hídricos vão desde pequenos igarapés, ao
caudaloso rio Amazonas, o maior do mundo – superando o histórico Nilo.
As espécies florestais são
tão variadas que até hoje não temos um catálogo completo de todas que por aqui
florescem.
Os animas, nem se pode
contar. Peixes temos para todos os gostos. Do gigante Filhote, ao pequeno
Cachorrinho-de-padre, passando pelos colossais Meros. Do cascudo Acari, ao
peixe cheio de divisas, o Tamuatá. Uns nascem em rios, alguns são dos lagos,
outros vivem no mar e todos os dias vêm se alimentar nos mangues – outro bioma
existente por aqui.
O boto é uma espécie
intrigante. Mamífero do mar, adaptou-se ao rio, até virou homem, nas festas dos
ribeirinhos. E ainda nem falei das aves, dos pequenos insetos, dos minúsculos
seres, habitantes das nossas terras.
As pessoas do Pará
descendem de muitas etnias. Os originais da terra cresceram aqui, depois de
caminharem e esgueirarem-se entre os Andes e a desconhecida floresta. Os
tupinambás, com seu falar, deixaram as marcas de sua presença nos nomes das
coisas, principalmente nas deliciosas frutas: bacuri, cupuaçú, tucumã, uxi,
umari, pupunha, açaí.
Os holandeses construíram
um forte em são José do Carrazedo, Gurupá e de lá começaram a explorar as
drogas do sertão. Os franceses ficaram nas costas do Pará até serem expulsos.
Os espanhóis vieram com Pedro Teixeira. Os japoneses migraram para cá e aqui ergueram
uma grande comunidade.
Recentemente, o Pará
recebeu contribuição de gente de todos os cantos do Brasil. Os nordestinos
vieram explorar a borracha e por aqui ficaram. Os sulistas foram trazidos pelos
militares para ocupar as margens da Transamazônica e permaneceram. Os pastos do
sul e sudeste encantaram o Brasil Central. Os maranhenses nunca saíram do Pará.
Dizem por aí que “quem vai ao Pará ‘parou’”.
O livro História da
Economia da Amazônia, do professor Roberto Santos, registra que entre 1908 e
1911, existiam no Pará portugueses, espanhóis, ingleses, turco-árabes,
franceses, alemães, italianos e norte-americanos. O prefeito de Santarém,
Alexandre Von, é descendente dos americanos que migraram para o Tapajós depois
da Guerra de Secessão.
Enquanto os últimos
governos paraenses foram picados pelo inseto do minério, da madeira e do boi,
muitos outros produtores e produtos crescem de forma marginal, gerando emprego
e renda da maneira que podem.
Em Medicilândia, por
exemplo, uma produção de cacau de 30 mil toneladas/ano é vendida em caroço, sem
industrialização. O açaí de Cametá e Igarapé-miri ainda não é processado como
devia. Todo o pescado paraense, que não é pouco, a maioria capturado de forma rudimentar,
é vendido in natura. Outro dia, tomando café da manhã na residência de um
amigo, foi servido um queijo feito em Monte Alegre. O formato parecia do famoso
queijo da Serra da Estrela, Portugal, mas o sabor era único.
Por tudo que vejo, reforço
minha convicção de que o Pará é um estado de oportunidades. É diverso em
produtos e pessoas, por isso, considero errado apostar unicamente em três produtos.
Nosso futuro está na tecnologia
e na diversidade. Já pensou pesquisar uma forma de produzir o filhote em
cativeiro e exportá-lo em grande quantidade? Imagine um pólo de biotecnologia
aqui no Pará, explorando todas as possibilidades das nossas ervas? E o turismo,
quantos pacotes podem ser criados para atrair turistas de todas as partes do
mundo? A variedade das nossas frutas podem gerar muito emprego, tenho confiança
disso.
As oportunidades do Pará
estão aí, basta que uma equipe de governo comprometida com o futuro, com a
sustentabilidade e com o desenvolvimento das pessoas, esteja disposta a
explorar todo esse potencial para gerar felicidades principalmente para os
jovens. Eu acredito que é possível.
Originalmente publicado: Estado do Tapajós
Originalmente publicado: Estado do Tapajós