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José Carlos Lima
(publicado originalmente no Estado do Tapajós)
Minha
convicção é que o futuro do Pará não está no boi, no minério ou na madeira.
Esses produtos ocupam os primeiros lugares na pauta de exportação paraense, mas
geram pouco emprego e quase não agregam valores à nossa matéria prima. Pensava
sobre isso, quando me lembrei de um fato que compartilho com vocês.
Acompanhava,
como Chefe da Casa Civil, uma viagem do governador Simão Jatene a Santarém, e
na programação estava agendada uma visita às obras da rodovia estadual
Santarém-Curuá-una. Na visita, chegamos a uma comunidade, e o Governador
resolveu ir a uma fábrica de farinha de tapioca em plena atividade que existia
ali. Os fornos acessos, os tachos cheios de massa, os sacos empilhados davam a
noção de que ali se produzia farinha em grade quantidade, empregando pessoas do
próprio local.
Jatene,
animado, pois acabara de ser o responsável pela produção no Pará e seu discurso
de campanha era todo focado no incentivo aos produtores locais, fez questão de
visitar o local. Recebido pelo dono do empreendimento, com quem entabulou um
conversar sobre produção, o governador disse da sua convicção de que o Pará
seria rico com incentivo aqueles que produziam, pois só a produção e a geração
de emprego faria o Estado superar a pobreza e a desigualdade. Todos concordaram
com gestos de aprovação do discurso.
Animado
com o volume de farinha fabricado ali, Jatene quis saber de onde vinha tanta
fécula de mandioca, matéria-prima para o fabrico da tapioca. Para surpresa
geral, o proprietário disse que tudo era comprado no Paraná. Jatene, quase incrédulo,
voltou a indagar o porquê. O pequeno industrial explicou que o Paraná era o
maior produtor de farinha de mandioca do Brasil, posto alcançado com muito incentivo
ao uso de tecnologia e, embora trazendo a fécula de tão longe, ainda assim, o
preço de sua mercadoria compensava.
O
Governador seguiu sua programação de visitas as obras. Voltamos a Belém e nunca
mais tocamos no assunto. Anos se passaram e a mesma história me foi repetida em
Santa Maria do Pará, quando participava de um comício local. Um comerciante de
farinha daquele município confessou-se envergonhado, enquanto paraense, por ser
obrigado a trazer farinha do Paraná, em grande quantidade, para vender aqui.
Mineradoras,
madeirais e pecuaristas devem cumprir as leis tributário-ambientais e apoiar o
verdadeiro futuro do Pará, que é um programa ambientalmente sustentável, baseado
em incentivo, pesquisa e uso de tecnologia em favor da agricultura local e
familiar, da diversificação da produção de frutas, ervas, bioervas, peixes,
proteínas animais com espécies locais, queijos, chocolates, turismo, dentre
tantos outros. Para o investimento em infraestrutura e programa sociais,
devemos exigir do Governo Federal contrapartida tributária pelo nosso esforço
em prol das exportações nacionais e da
geração de energia para o país.