O Pará não é muito mais que minério



Nas minhas andanças pelo Pará, na condição de pré-candidato a Governador, tenho me deparado com muitos problemas, muitas dificuldades, empecilhos para o crescimento das pessoas, mas também encontrei iniciativas e uma enorme variedade de produtos que podem ser transformadas em soluções para superar a pobreza e a desigualdade que nos persegue desde o dia em que decidimos ancorar nossa economia apenas na mineração, no boi e na madeira.

O Pará é um estado diverso no clima, em biomas e em pessoas. Temos o cerrado, os campos de natureza e a floresta amazônica plena. Os nosso corpos hídricos vão do pequeno igarapé ao caudaloso Amazonas. As espécies florestais são tão variadas que até hoje não temos um catalogo completo de todas as espécies que por aqui florescem. Os animas, então nem se pode contar. Os peixes tem para todos gostos. Do gigante filhote ao pequeno cachorrinho de padre. Do cascudo Acari, ao peixe sargento, cheio de divisas, que é o tamuatá. Uns nascem no rio, outros no mar e vem todos os dias se alimentar nos mangues. O boto é uma intrigante espécie. De peixe do mar, transformou-se em peixe do rio, até virou homem, nas festas dos ribeirinhos. E nem falei das aves, dos pequenos insetos, dos minúsculos seres.

As pessoas do Pará descendem de muitas etnias. Os originais da terra cresceram aqui, depois de caminhar e se esgueirar entre as cordilheiras dos Andes e a terrível floresta. Os tupinambás, com seu falar, deixaram as marcas de sua presença nos nomes das coisas, principalmente nas deliciosas frutas: bacuri, cupuaçu, tucumã, uxi, umari, pupunha, açaí... Os holandeses construíram um forte em são Jose do Carrazedo, Gurupá e de lá começaram a explorar as drogas do sertão. Os franceses ficaram nas costas do Pará até serem expulsos. Os espanhóis vieram com Pedro Teixeira. os japoneses migraram para cá e aqui floresceram um grande comunidade. Recentemente, o Pará recebeu contribuição de gente de todos os cantos do Brasil. Os nordestinos vieram explorar a borracha e por aqui ficaram. Os sulistas foram trazidos pelos militares para ocupar a Transamazônica e também ficaram. Os pastos do sul e sudestes encantaram os brasileiros do Brasil Central. Os maranhenses nunca saíram do Pará. Dizem até que quem vai ao Pará parou. O livro História da Economia da Amazônia, do professor Roberto Santos, registra que entre 1908 a 1911, existiam no Pará: Portugueses, Espanhóis, Ingleses, Turco-árabes, Franceses, Alemães, Italianos, Norte-americanos. O prefeito de Santarém, Alexandre Von, é descendente dos americanos que migraram para o Tapajós depois da guerra de secessão.

O vídeo que ilustra esta matéria foi gravado por mim no trapiche do mercado de peixe de Cametá. Quando olhei o rapaz pegar um aracú e bater na água, liguei a máquina e comecei a filmar. Outro amigo pediu para o rapaz repetir e novamente os botos cor de rosa vieram comer em sua mão. Quantas vezes ele quis, os botos se exibiram por causa de um peixe. Pensei logo no Parque dos Golfinhos em Miami. Muita gente viaja até lá só para ver o espetáculo. Será que esse show do rapaz de Cametá com os seus botos pode virar um produto turístico? 

Em Medicilândia tem uma produção de cacau de 30 mil toneladas ano, toda vendida em caroço, sem industrialização. O açaí de Cametá e Igarapé-miri ainda não é processado como devia. Todo o pescado paraense, que não é pouco, é vendido in natura, também á capturado rudimentarmente. Outro dia, tomando café da manhã na residência do presidente da OAB Pará, Jarbas Vasconcelos, foi servido um queijo feito em Monte Alegre, o formato parecia do famoso queijo da Serra da Estrela, Portugal, mas o sabor era único. 

As conversas que tenho realizado estão firmando minha convicção de que o Pará é um estado de oportunidades. É diverso em produtos e em pessoas. Nosso futuro está em apostar em tecnologia e nessa diversidade. Já pensou se podermos pesquisar uma forma de produzir o filhote em cativeiro e exportá-lo em grande quantidade? Imaginem uma industria de biotecnologia aqui no Pará, explorando todas as possibilidades das nossas ervas? E o turismo, quantos pacotes podem ser criados para atrair turistas de todas as partes do mundo? A variedade das nossas frutas podem gerar muito emprego, tenho confiança nisso. 

De repente, quando pensava sobre as possibilidades do Pará, perguntei-me: e porque o atual governo não investe nessas soluções? Eu não encontrei uma resposta convincente. Mas vi que os últimos secretários de produção paraenses são ligados a dois setores: madeira e mineração. Talvez isso mostre apenas um tendência errada de apostar todas as fichas nos produtos errados.

A importância do Pará e as oportunidades para crescer que os nossos governantes teimam em não ver, foram constatadas por Henri Coudreau, nos anos de 1800, conforme nos relata Durval de Souza Filho em dissertação de mestrado:  Os retratos de Coudreau. Elas estão ai a espera de oportunidades que podem ser dadas se uma equipe de governo comprometida com o futuro, com a sustentabilidade e com o desenvolvimento das pessoas, estiver disposta a explorar todo este potencial. Eu acredito que é possível. 


 

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