A música e a vida

Comprei um toca-disco para voltar a ouvir música em LPs. Havia lido um artigo que comparava as diversas mídia e classificava os LPs como a melhor forma de reprodução do som. Já havia ouvido falar no assunto, mas não dei muita importância. Segui ouvindo música em MP3, a mídia mais moderna de hoje.

De repente, dei ouvido a pesquisa e resolvi investi nos vinis. O som é outra coisa. Muito mais profundo.

Com o toca-disco comprado, fui buscar meus velhos discos, discos que ouvia quando ainda morava com os meus pais. Nesse tempo, tinha uma eletrola portátil. Pegava meus discos e ia para sala, ambiente sempre vazio, salvo quando tinha visita. lá, deitava no assoalho e ouvia música até não querer mais. Vinicius, Dorival, Paulinho da Viola, Caetano, Chico Buarque eram os meus preferidos. Pois sabem que os Lps todos funcionaram!?

E quando os primeiros sons saíram pelas duas caixas, vindo da agulha girando pelo bolachão, meus ouvidos logo sentiram a diferença. O som é mais profundo. A voz do cantor é nítida. Percebi que nem precisava aumentar muito o volume para sentir toda a música. Ela flui em todas as dimensões e com um brilho inimaginável. Entendi de primeira, porque as pessoas, nos dias de hoje, ouvem esses MP3 nas alturas.

Ivan Lins cantando: pede a banda pra tocar um dobrado... Elis Regina interpretando João Bosco e Aldir Blanc. Caetano Veloso falando do seu menino do Rio. Tudo tem mais qualidade quando tocado diretamente dos LPs.

E o prazer de levantar, trocar o disco do Lado A para o Lado B. Enquanto o LP gira no prato, você pode manusear as capas, acompanhar a música com a letra na mão, descobrir de quem é o arranjo, qual a banda que está acompanhando o interprete.

Quando o LP começou a ser desafiado pelas fitas K7, pensei que era uma avanço poder colocar o cartucho no tape deck e ele girar até acabar a última música sem precisar trocar de lado. Depois vieram os CDs. Por último os pen drives. Nunca havia parado para pensar que estávamos perdendo o principal, a qualidade do som.

Até os músicos foram perdem o aprazer em compor e gravar. Também não precisava se esforçar tanto. Pra que se a mídia não conseguia reproduzir aquilo que na execução os ouvidos dos músicos tinham o prazer de desfrutar. As músicas e os músicos foram empobrecendo e se acomodando ao formato compactado em MP3

Enquanto Giberto Gil disparava suas maravilhosas composições na minha eletrola, minha cabeça girava de volta a um tempo onde a vida, as amizades, as pessoas, tinham mais brilho, maior profundidade e muito significado.

 

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