Tolerância zero


* artigo publicado no Estado do Tapajós

Na esquina da Av. Generalíssimo Deodoro com a Rua dos Mundurucus, por volta das três da manhã de um domingo, o Delegado Geral, maior autoridade da Polícia Civil do Pará, foi abordado no semáforo por dois bandidos que anunciaram mais um de muitos assaltos que tornaram o Pará o segundo estado mais violento do Brasil. Houve reação natural do Policial e os bandidos também reagiram, trocaram tiros. Os meliantes acertaram o Delegado Rilmar com um tiro que quase lhe tirou a vida. O delegado acertou um dos bandidos na perna. O outro fugiu. Eram dois homens e uma mulher. A mulher levou o bandido ferido na garupa de uma moto para o hospital.  

Os índices e as metodologias que apuram os números da violência no Pará são muito relevantes, contudo a realidade é mais. Em todos as cidades de médio porte do Pará e na capital, a violência aumentou muito, tornando-se o mais grave problema a afetar os paraenses. 

A única forma de vencermos a violência, reduzindo os índices, será aplicar uma política de segurança de “tolerância zero”. 

Tolerência zero não é bater, espancar, torturar ou matar. Trata-se de Tolerência Zero com qualquer tipo de delito, aplicando a lei ao infrator. Pobres e ricos, quando cometem crimes, devem receber o mesmo tratamento previsto na lei. Tolerância zero respeita inclusive os direitos humanos, mas não tolera o crime. Devemos derrotar o mito de que por aqui “lei é potoca”, em qualquer de suas versões. Isso inclui “aos amigos a lei e aos inimigos os rigores da lei”.

Um corrupto deve ser punido. Igualmente quem dirige bêbado. Quem rouba também. Quem vende produtos piratas. Quem ocupa as ruas irregularmente. Quem superfatura obras. Quem pratica nepotismo. Quem faz trafico de influência. Quem recebe sem trabalhar. Quem grila terra. Quem implanta projeto de grande impacto socioambiental e não cumpre as condicionantes. Quem compra voto. Quem vende voto. Todos devem receber a punição prescrita na lei. Tolerência zero é sem exceções.

Com o dinheiro público, inclusive aquele que será economizado, depois que coibirmos a corrupção e todos os desvios, devemos implantar poderosos programas sociais e econômicos para as populações de baixa renda das periferias. Nada de paternalismo. Programas inclusivos de verdade que tirem os jovens das mãos do tráfico.

Os pais também devem implantar em suas casas a tolerância zero. “Não acendas os carvões dos pecadores, repreendendo-os, para que não sejas abrasado pela chama dos seus pecados” (Eclo 8,13-14). Nada de modernidades duvidosas, estranhas à nossa cultura e ao comportamento ético. As relações familiares precisam ser reforçadas e acabar com a tolerância à mentira. Pais são responsáveis pelos seus filhos e devem educá-los com a verdade e transparência total. Esse negócio de pais que negligenciam a educação de seus filhos, entregando-os à escola e às ruas não pode ter espaço. 

O eleitor não pode ser tolerante com os políticos que não cumprem suas obrigações. É errado o político que mente, mas também erra o eleitor que aceita ofertas para vender o voto. Saiba que o traficante que levou a vida do seu filho está protegido por políticos bandidos, cujo mandato foi conquistado com dinheiro desviado dos programas de saneamento, água, educação, saúde, emprego que faltou para sua família. A tolerância é zero. 


Se queremos a paz, vamos construir a paz. Construir a paz é implantar um estado de verdade absoluta. Tolerância zero com o grande crime e com os crimes do dia a dia. Aqueles “sem importância”, como dar uma “ponta” ao segurança para entrar na festa sem ingresso, estacionar em local proibido, parar em fila dupla, comprar CDs ou DVDs piratas. São muitas as atitudes que alimentam os criminosos. Elas, se reparamos bem, começam dentro de casa. 
 

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