Revolta na PM é grave

O episódio que levou PMs a sublevação no dia de ontém é muito mais grave do que vimos ou ouvimos. Os PMs pararam, fecharam a principal entrada e saída da cidade, desacataram oficiais, em protesto por ter o governo proposto reajustar o soldos dos oficiais sem mexer no soldo dos praças. O governo diz que fez isso para corrigir uma grave distorção salarial; é que o soldo dos oficiais está ficando achatado depois que o governo resolveu conceder aumentos diferenciados para os soldados.

Quem tem razão?

A PM é uma instituição militar responsável por combater crimes e proporcionar segurança pública a população e como tal, funciona a base de hieráriquia e disciplina. Os membros da cooporação devem respeito aos seus superiores e obedecem voz de comando. Claro que um militar pode se recusar a obedecer ordens ilegais, mas no geral deve obedecer e cumprir as rotinas da cooporação. Para desempenhar suas missões, os membros da coorporação devem fazer jús a soldos o mais justo que a sociedade poder pagar, e tem direito de reivindicar, mostrar insatisfação, mas o limite de tudo deve ser o respeito a sociedade e a instituição. Ontem, infelizmente, isso não aconteceu.

Na Polícia Militar do Pará vem acontecendo divisões internas que colocam em risco as funções que a sociedade a eles confiou. São grupos que se formaram a partir da mistura da instituição com a política partidária.

O PMDB ao assumir o goverrno do Pará, logo após a ditadura militar, tratou criar um grupo mais ao seu perfil dentro da PM. Os militares que compunha a cúpula da força estadual até então eram fiéis a doutrina de segurança nacional, incompatível com os novos ventos democráticos, dai a justificativa para tentar arrejar a tropa com comandantes mais modernos. Os que seguiram o jovem governador Jader Barbalho, tronaram-se fiéis não a tropa, mas a ele e ao PMDB. No Governo Hélio Gueiros, as marcas dentro da PM foram menos profundas. Hélio manteve relações com os novos, mas deu-se muito melhor com os velhos e tradicionais militares.

Dois grupos travaram batalhas internas pelo comando da nossa Briosa.

O PSDB, após a vitória de Almir Gabirel, tratou de encontrar dentro da PM, oficiais que lhes fosse mais próximos e, por oito anos, mantreve preferências por setores internos que passaram a dar as cartas internamente, deixando encostado os "não confiáveis".

O PT no poder deu guarida aos oficiais que haviam sido preteridos ao longo dos governos tucanos e dos peemedebistas. Eram militares com perfil mais sindicalistas que haviam participado de lutas internas por soldos melhores.

A política partidária entrou nos quartéis e lá se misturou com outros interesses. Os grupos fizeram pacto de convivência. A hierarquia deixou de prevalcer. A voz de comando é de faz de conta.

Além dos grupos partidários, existem outros. Os membros da coorporação que prestam serviço particular de segurança para empresas e negócios, legais e as vezes nem tanto.

A cúpula da PM, ocupada em brigas por poder interno, não tem tratado com dignidade a tropa, aquela que deseja prestar um bom serviço a população. Os custos de manutenção da PM são altos, mas isso não significa que nos quartéis, os equipamentos e as demais condições de trabalho sejam compatíveis com esses custos.

Os protestos que vem ocorrendo são apenas a ponta de um imenso iciberg, mergulado no mar de disputas, vaidades e ilegalidades. É preciso tomar consciência e enfrentar esse grave problema, antes que seja tarde.
 

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