Plano de segurança: carro, moto e cavalo

Caro governador Simão Jatene, desculpe antecipadamente, mas eu não acredito no seu plano de segurança baseado em carros, motos, cavalos e premiação por arma apreendida. Quem sou eu para discordar do Senhor.

O Senhor tem muito mais informações, experiências e competências para compor um plano de segurança, só não entendo é porque não faz o que tem que ser feito.

Vou lhe mostrar onde estão minhas discordâncias e espero que o Senhor aceite criticas, afinal é um professor de economia, acostumados as mudanças de cenários e a opiniões contrárias.

Impunidade

O Pará é uma terra de impunidade. Aqui as pessoas roubam dinheiro público, roubam terra, assassinam, mas também param em fila dupla, dirigem bêbados, andam armados, vendem bagulho, Cd's piratas e nada acontece. Jarbas Vasconcelos tem dito que o Estado deve adotar tolerância zero com o crime. E isto não significa cometer violências, apenas aplicar a lei.

Veja, Governador, o caso do advogado Jorge Pimentel, morto por pistoleiros. Sua polícia investigou, fez um belo trabalho, concluiu encontrando os pistoleiros e apontando os mandantes. Cade os mandantes? Fugiram. A Policia sabe quem facilitou a fuga deles, tem pistas fortes. O Senhor tem estas informações. Os mandantes, porém, Doutor Jatene, estão foragidos e nada acontece.

A impunidade precisa acabar.

Jovens, negros e de periferia são criminosos e vítimas

Os dados da SUSIPE e da Policia Civil sobre crimes são elucidativos, Dr. Jatene. Eu, um simples advogado e presidente de uma comissão da OAB, tive acesso a eles. Creio que o Senhor os tem. Se não tiver, peça para os seus auxiliares. Depois, dr. Jatene, chame uns técnicos e estude os números. O Senhor vai ver que eles falam.

De lá extraí-se que a maioria dos crimes estão ligados ao tráfico de drogas. Os traficantes usam a mesma técnica da Natura, desculpem, não vendem em loja, distribuem a droga em pequenas quantidades, fazendo um varejão na periferia. Quando o pequeno vendedor não paga as petecas que pegou para vender, eles matam para impor o terror. O vendedor, quando se transforma em usuário, fuma ou cheira o que tinha que vender, não apura a grana, fica endividado, resultado, ou morre, ou vai assaltar para pagar o que deve, não tem outra alternativa.

Dr. Jatene, chame no seu gabinete as senhoras que trabalham nas revistas em dia de visita aos presídios. Faça por amostragem. O Senhor vai ver o que a droga é capaz de fazer. Senhoras de idade, mães devotadas viram mula para passar drogas, celulares, serras para dentro do presídio, tudo para ajudar o filho a não morre na mão dos chefes do tráfico que dominam as casas penais do Pará.

O tráfico atinge as pessoas pobres. Quanto mais polícia, mais carros, mais motocicletas, mais cavalos, mais pobres, pretos de periferias serão presos, não tenho dúvida disso. O Senhor terá números para mostrar na Tevê, números de vítimas nesta guerra suja. Mas isto não significará segurança pública.

Interferência política nas máquina pública

O Senhor sabia que os cargos de nomeação ou indicação continuam sendo entregues a deputados sua base, que por seu turno entregam a políticos locais, muitos deles envolvidos com crimes? Pois é. Isto acontece e tem que parar de acontecer. Limpe a máquina da influência nefasta e valorize os melhores profissionais.

Programas sociais arrojados

Agregue aos carros, motos e cavalos. Um programa de tolerância zero, junto com arrojados programas sociais e econômicos.

Aqui vão algumas idéias:

1. Determine a Fundação Carlos Gomes que contrate músicos para levar muita música as escolas públicas. Jovens pobres querem alternativas decentes e a música de qualidade ajuda a cultura de paz.

2. Aproveite que o Marcos Eiró deixou a SEEL e mude tudo por lá. No ano passado ele gastou o dinheiro da Secretaria estimulando porrada e mais violência. Crie grandes centros esportivos nas periferias das grandes cidades. Estimule esportes coletivos para juventude. O esporte é integrador;

3. Faça programas para as famílias pobres. Psicólogos, assistentes sociais e economistas, juntos poderiam assistir os pais e mães a encontrarem saídas econômicas e sociais para tornar as famílias mais integradas;

4. Chame o SENAI como parceiro para fazer cursos profissionalizantes com a juventude. Mas é programa de grande quantidade. Não estas mixarias que estão em curso. Os projetos de hidrelétricas, minerais e agrícolas estão chegando aqui e recrutando gente de fora do Estado por ausência de mão de obra qualificada.

5. Use os R$ 300 milhões da taxa mineral, muito bem pensada pelo dr. Helenison Ponte, é um dinheiro novo. Invista em programas para abraçar com carinho o povo carente do nosso Estado.

Eu não sou seu inimigo e muito menos seu adversário. Não quero seu cargo de governador e nem tenho votos para querer.

Apenas, Governador, apresento críticas, porque sei que os seus puxa-sacos nunca lhe dizem o que o Senhor precisa ouvir. Para eles, o Senhor é o maior e nunca erra. O Senhor também, com a malícia de muitos anos de praia, cria uma aura de infalibilidade que deixa-os constrangidos.

Por favor, escute um pouco outras vozes.  Minhas críticas são sinceras e meu desespero também. Quero é que o Pará deixe de matar seus jovens, prendê-los ou entregá-los nas mãos dos traficantes. Creio que o Senhor pode fazer muito.


P.S.:  Acredito que os puxa-sacos, por motivos óbvios, desta vez não vão levar meu post para o Jatene. Peguem o que está escrito, rescrevam, assinem como autor e levem ao Governador. Eu não me importo.

 

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