O nível de intolerância está alto e a violência assola todos
os cantos do país. No Pará, a insegurança é total, matam-se todos os dias por
motivos mais diversos.
Nestes tempos esquisitos, quando se fala em segurança, ou insegurança,
as pessoas mais cristãs que conheço são capazes de expressar sem qualquer
esforço a frase: “bandido bom é bandido morto”.
Como católico e cidadão que sou, passei a pensar seriamente
sobre essa frase. Será mesmo que do ponto de vista da Justiça, bandido bom é
bandido morto? Sim, porque desejo que todas as pessoas que cometem crime ou
pecado sejam punidas.
Quando uma pessoa infringe as regras estabelecidas pelos
homens e permanece viva, deve se submeter às leis humanas, claro, depois de um
julgamento justo, quando este julgamento concluir pela sua culpabilidade.
Mas se a pessoa morre, seu corpo vai para debaixo da terra,
onde apodrecerá, se misturando ao pó, para cumprir a máxima: “vieste do pó e ao
pó voltaras”. Daqui por diante,
dependendo da crença, o destino do morto segue caminhos diferentes. Para os
céticos, tudo acaba na matéria. Para os crentes, a alma ou espirito seguirá
para o julgamento divino.
Muitos acreditam que uma morte violenta pode purgar os
pecados. Outros acham que aquele espirito ainda voltará a reencarnar e assim
segue os debates de fé.
O certo é que a morte do bandido, não nos serve para nada, a
não ser para uma satisfação momentânea as vítimas ou para o prazer sádico das
pessoas que enxergam na violência um remédio para todos os males. Uma vingança
que não aperfeiçoa nosso sistema de punição, pois no caso da morte do bandido
ele escapa do nosso julgamento.
A morte do bandido também nos faz outro tipo de mal. O
sistema de segurança pública que tem policiais violentos, que usam a arma para
julgar, condenar e executar suas sentenças, não é um sistema justo, ao
contrário, assim como pode executar culpados, também executará inocentes. O
mais grave, porém, é que policiais que matam, passam a desenvolver sequelas
psicológicas, precisam de tratamento constante ou até aposentam-se em menor
tempo, significando perdas para o sistema.
Bandido bom é bandido morto. Está frase tem ainda muitas
outras implicações de cunho prático. E a mais terrível delas atinge novamente a
fé de duas maneiras. Primeiro pela parte de Deus. A vida é um dom de Deus e só
ele pode tira-la. Deus, vendo alguém tentando substituí-lo no papel de julgador,
com certeza não ficará satisfeito, recaindo sobre esse vivente sua punição. O
demônio, que dominava alma do bandido, por certo também ficará contrariado.
Bandido bom é bandido morto não traz nem uma vantagem.
Aquele bandido morto desparece da nossa vista, mas os crimes continuam e a
violência aumenta. O nosso sistema de punição continua com falhas, não servindo
para o papel a que se destina. O policial que mata sofre as consequências desse
ato, adquirindo sequelas, algumas incuráveis e com graves consequências.
Desagradamos Deus, com a interrupção de uma vida que não criamos e o Demônio,
ao perder um soldado do mal deve trabalhar para tomar outras almas, aumentando
seu exercito de pecadores.
Por cautela, acredito que o melhor caminho a seguir não é o
de responder com violência à violência. Devemos exigir que os servidores
públicos pagos com o nosso imposto para nos dar segurança, apliquem
corretamente as nossas leis e não queiram atalhar o caminho, empurrando para
debaixo da terra as falhas do sistema de prevenção, julgamento e punição.