O PSDB e o PT geraram “aurelianos” com rabos de porco



Tenho ouvido com muita tristeza as noticias escabrosas sobre a operação “Lava Jato”, envolvendo valores astronômicos desviados da Petrobrás. O desvio envolve políticos e partidos diversos, com o peso maior caindo sobre as costas do PT por duas razões, embora o iniciador de tudo isso tenha sido o PSDB.

O PT está no governo a mais de 12 anos e havia se encontrado “bandalheira” do período do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso, que deveria ter denunciado, apurado, prendido e corrigido o rumo das coisas na empresa. Mas não o fez, resolveu aderir a mesma prática, sofisticar a forma de retirar dinheiro público para fazer caixa de campanha e financiar as atividade políticas.

O PT se formou, cresceu e chegou ao poder do País prometendo moralidade absoluta e combate a qualquer forma de corrupção, bem como implementar a reforma política que permitisse que pessoas de qualquer nível social, não importando o patrimônio, pudesse participar das eleições para cargo público em pé de igualdade.

Dito isto, quero agora fazer uma constatação que sei ser polêmica, mas é a opinião de uma pessoas que está na janela, olhando as coisas há muitíssimo tempo. Parecendo aquela vizinha mais antiga da rua que tudo sabe e tudo vê, assim como Úrsula Igurán, de Cem Anos de Solidão, do genial Gabriel Garcia Marques.

Não é que eu seja velho, mas é que comecei a participar da política bem jovem e até aqui vi muito acontecer. Quem enfraqueceu a Petrobras e a entregou nas mão dos políticos foi o PSDB e Fernando Henrique Cardoso.

A Petrobras, junto com a companhia Vale do Rio Doce e a DOCEGEO, era uma empresa forte, representando o orgulho do povo brasileiro. Sempre foi muito respeitada no mercado por causa da competência técnica de seus funcionários, que nunca deixaram a peteca cair e mantiveram por muito tempo, o espirito do “Petróleo é Nosso”.

Os petroleiros eram muito respeitados. Tinham uma organização sindical forte, combativa e vigilante em relação a saúde da empresa. Mantiveram sempre a roubalheira e as indicações políticas fora da estatal, pois tinha pela Petrobras um amor idealista, nascido na luta dos nacionalistas brasileiros que junto com Getúlio Vargas construíram o modelo econômico de empresas estatais fortes e estratégicas nas mão e sob o controle do Estado.

Os petroleiros, aliados aos urbanitários, às telefônicas e funcionários da Vale do rio Doce, forma decisivos na organização do melhor e mais combativo movimento sindical deste país.

Sindicalistas de boa estirpe, que tinham limites até no corporativismo. Colocando os interesses da sociedade e das empresas estatais sempre acima dos seus próprios interesses. Eram o que havia de melhor na tradição sindical de esquerda séria, que vinha da época dos comunistas do velho Partidão. Aqui rendo homenagem ao ilustre paraense Sá Pereira, sindicalista que junto com os petroleiros paraenses, viu a sede da Serzedelo Corrêa, hoje em escombros, ser invadida pelos militares durante a Ditadura.

No governo de Fernando Henrique Cardoso, o PSDB aderiu a tese do estado mínimo e do estado regulador. O estado não era bom gestor e nem era seu papel atuar na economia. A iniciativa privada fazia isso muito melhor, com mais agilidade e sem a interferência dos políticos.

O ministro Sérgio Motta, foi escalado para comandar um grande processo de privatização, primeiro no setor de telecomunicações, depois na Vale e em seguida no setor de petróleo.

Sérgio Motta foi também o articulador político de Fernando Henrique para aprovação da emenda da reeleição. Na época, choveram denuncias de compra de votos parlamentares para aprovação da emenda, até uma CPI foi ensaiada no Congresso Nacional e abortada depois que o PMDB, sempre ele, saiu da sombra e conquistou dois ministros, Iris Rezende na Justiça e Elizeu Padilha nos Transportes.

Venderam para o povo - e a imprensa aderiu - como cereja desse bolo, a regulação através das poderosas agências reguladoras e a possibilidade de investimentos privado no setor, além de usar o dinheiro da venda para equilibrar a economia, acabar com a inflação e investir em áreas sociais. Um plano para lá de perfeito.

Os petroleiros reagiram em uma greve monumental que incomodou Fernando Henrique e Sérgio Motta. O PSDB então percebeu que não teria sucesso sem derrotá-los.

A greve começo para exigir o cumprimento de uma acordo salarial de 1994, firmado na presença do presidente da república, Itamar Franco, pelo Ministro da Minas e Energia, mas passou a ser a batalha decisiva contra a entrega das grandes empresas e de grandes setores da economia nas mãos do estado para iniciativa privada.

Os petroleiros resistiram bravamente as investidas do Governo, que para massacrá-los, usaram a imprensa para jogar o povo contra a greve e até as  tropas do Exercito. Na madrugada de uma quarta-feira de maio de 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso ordenou que 1.630 soldados do Exército ocupassem quatro das onze refinarias da Petrobrás.

Se de um lado o PSDB e os petroleiros sabiam o que estava em disputa, a CUT e as demais categorias mesmo percebendo a gravidade do momento, não agiram como deveriam. A Veja foi certeira ao publicar: “o recurso militar se explicava pelo objetivo político do presidente: vencer, de maneira acachapante, a única oposição organizada ao governo, a CUT. Para um governo que pretende acabar com a indexação salarial, extinguir privilégios do funcionalismo público e mexer nas aposentadorias, derrotar o setor mais forte do sindicalismo é uma condição quase que obrigatória.”

Quando os petroleiros, enfraquecidos pelos fortes ataques desferidos por Sergio Motta a mando do Planalto, recorreram à solidariedade dos outros sindicatos, ela não veio, ficaram sós e isolados receberam um golpe fatal.

O Ministro Almir Pazzianoto usou um erro formal, a ausência da assinatura do presidente da Petrobras no acordo salarial para tornar a greve ilegal e aplicou multas astronômicas por cada dia de paralisação, mandando a leilão as sedes históricas dos sindicatos e permitindo a demissão dos dirigentes dos petroleiros. Interpelado pela imprensa, Pazzianoto tentou explicar sua decisão política: ``Os petroleiros caíram num engodo. O acordo não tem validade porque devia ser assinado pelo presidente da Petrobrás e foi assinado pelo ministro das Minas e Energia".

Foi um golpe duro em todos os sindicatos e no Brasil.

Rompido à resistência, vencida a batalha principal, Fernando Henrique quebrou o monopólio do petróleo, vendeu as telefônicas e deu de presente a setores privados a maior empresa de mineração do Mundo, a Vale do Rio Doce.

O preço e a venda da Vale do Rio Doce até hoje são alvos de inúmeras ações judiciais que tramitam no TRF da Primeira Região, cuja relatora, desembargadora Selene Maria de Almeida, disse-me, em uma audiência que fui tratar do caso Belo Monte, que quando recebeu a primeira ação era contra a venda da Empresa. Hoje, passado tanto tempo, mudou de opinião, não quer mais desfazer o negócio, deseja apenas sentenciar de mérito, pondo fim ao feito e determinando que os compradores paguem o preço justo pela compra da estatal, mas nem isso estava conseguindo, face ao número de réus, de meios procrastinatórios e as influências políticas em desfavor da justiça.

Ao derrotar os petroleiros e os demais sindicalistas das estatais, as interferências políticas na gestão da Petrobras passaram a ser uma realidade, junto com ela a relação promiscua de contratadas com esquema de financiamento de campanha.

As negociações entabuladas pelo PSDB, para aprovar a emenda da reeleição e barrar CPI’s que desejavam investigar os desvios nas privatizações, com membros do Congresso Nacional, dando a eles cargos e apoios financeiros eleitorais, iniciou uma página triste e suja da nossa história política, que foi continuada, infelizmente, pelo Partido dos Trabalhadores, em um grau muito maior.

E logo o PT que tinha obrigação de reavaliar as privatizações e justiçar os irmãos sindicalistas abatidos por Fernando Henrique e Sérgio Motta, o mentor e iniciador da maior história de corrupção já vista numa República Democrática do Ocidente.

O povo brasileiro precisa saber dessas histórias, precisa se posicionar com veemência como está fazendo. Cobrar apuração radical da corrupção e punição exemplar de todos os empresários, funcionários e políticos envolvidos. Limpar o PT e o PSDB e até ir para as ruas com o pedido de impeachment da presidente Dilma.

Dilma estará cumprindo um doloroso papel tendo que ficar viva até a sétima geração de políticos viciados em patrimonialismo. Estando no final da história, cabe a nossa Úrsula Igúaran, assistir os filhos que o PSDB e o PT - que  em tudo por tudo são iguais - geraram, esses “Aurelianos” com rabo de porco, serem devorados pelas formigas, como previsto na profecia de Melquíades, fazendo surgir dai uma nova Macondo. nascerá então um país forte, justo, ambientalmente sustentável e livre da corrupção.

 

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