Ontem fui convidado para participar de uma sessão especial na Câmara Municipal de Belém, na sexta-feira, dia 06.06, para discutir a situação dos catadores de lixo do "Lixão do Aurá”.
Pensei, "vou ou não vou”.
Vou.
Vou por causa dos meus catadores. A situação deles é urgente.
São mais de duas mil famílias que estão ameaçadas de ficar sem ganho. Eles merecem uma solução. Muitos deles vivem a vida inteira em cima do lixo, catando, separando, reciclando para vender e com o dinheiro comprar o pão de cada dia.
Vou porque são mulheres e homens que não perderam a esperança de viver, mesmo vivendo do lixo que as outras pessoas jogam fora por não querer mais.
Vou por que acredito que os catadores podem ser tratados com dignidade.
Vou porque o meio ambiente pede a ajuda desses profissionais da reciclagem.
Mas tinha prometido para mim mesmo que não iria mais a sessão especial na Câmara Municipal de Belém.
Na última que fui, convocada pelo vereador Moa Moraes, com intuito de debater a construção de um monstrengo na Cidade Velha, aquele tal shopping do Bechara Matar, só estava presente o Vereador autor do requerimento.
Foram as pessoas das associações, senhores de família. Foi o procurador federal dr. Potiguar. Foi a representante do IPHAN. Fomos nós da OAB Pará. Foi até uma historiadora estudiosas de Pedro Teixeira. Mas vereador que é bom, não foi.
Se eles não prestigiam o Poder Legislativo, para qual foram eleitos e de onde tiram dinheiro para viver uma vida folgada, produzindo toneladas de lixo que vai todo os dias para o "Lixão do Aurá". Não sou eu quem vou prestigiar!
Os vereadores e deputados quando querem se livrar de um assunto ou das pessoas do movimento social, por incômodo ou chato que seja, aprovam um pedido de uma sessão especial ou audiência pública.
Dai, a sessão acontece, as pessoas interessadas vão até lá gastando seu tempo, e encontram apenas o autor da proposição, que dependendo do assunto, é um vereador da bancada de oposição.
Os movimentos sociais não precisam de plenário, cafezinho e água para reunir, isso eles tem de sobra e em melhor quantidade e qualidade. Querem que o parlamento se interesse pelos assuntos da cidade e discuta com responsabilidade as soluções ouvindo a população. Se o assunto é polêmico, se por comprometimento com financiadores de campanha ou com o governo a que servem não podem debatê-lo, que derrotem o requerimento que pede a sessão. É bem mais digno. Mas não. Eles aprovam e depois esvaziam com suas ausências premeditadas pensando que somos lesos.
Eu vou na sessão de sexta-feira. Já me comprometi. Mas depois disso, prometo que não irei mais até que eles mudem de postura e resolvam prestigiar a casa legislativa para qual foram eleitos como representantes do povo.
Pensei até em fazer uma emenda popular dizendo que a ausência em sessão especial ou audiência pública conta como quorum para desconto no salário. Mas desisti. Desisti porque pensei que seria demais da minha parte querer me meter nas coisas internas do parlamento.
A sociedade tem que saber o tipo de representante que escolhe e quando não estiver satisfeita, mudá-los pelo voto consciente. Ficar arranjando maneiras de consertar o erro dos outros por medida de força é que não dá. Se eles quiserem, eles que mudem, ou então a sociedade mude com eles de lá e eleja gente melhor.