Se quer entender de futebol e de democracia tem que conhecer
as regras do jogo. As regras eleitorais são complicadas tanto quanto as de
futebol. Mas brasileiro que é brasileiro entende das regras de futebol. Já as
da democracia, tenho minhas dúvidas se o eleitor as conhece, embora o voto por
aqui seja obrigatório e fundamental para eleger aqueles que terão o poder sobre
todos.
O futebol é bem mais íntimo e todo brasileiro sabe as regras
básicas de um campeonato ou de uma partida. Quem não sabe o que é um pênalti, um
impedimento, uma falta, um escanteio, um tiro direto? Os brasileiros conhecem
muito bem quando um jogador joga mal e quando o técnico faz uma troca mal
feita.
Quando a Copa do Mundo terminar, começará a campanha
eleitoral no Brasil. Uma campanha eleitoral em que a sociedade clama por
mudanças. Mas como mudar se os eleitores desconhecem as regras do jogo político?
Os
brasileiros desconfiam do juiz que apita contra o seu time do coração. Esse
juiz está comprado, dirão eles. Mas os eleitores não sabem ou sabem e aceitam
que os candidatos sejam comprados por empresas para favorecê-las com contratos
superfaturados ou obras de péssima qualidade, nas quais foi utilizado material
de quinta categoria para baratear os custos e aumentar os lucros.
Os
brasileiros não aceitam que o jogador do seu time faça conluio com o jogador ou
treinador do time adversário. O eleitor, porém, nunca se indigna com as
alianças espúrias que os partidos políticos fazem para alcançar o poder e
repartir os cofres públicos como se fosse um butim.
Os brasileiros
nunca perdoariam que as tevês, ao transmitirem os jogos, dessem maior tempo
para o time adversário. Mas os eleitores nunca questionam que alguns partidos disponham
de sete minutos de propaganda, enquanto outros apenas meio segundo, o que lhes
permite dizer apenas o bordão famoso: “Meu nome é Enéias”.
Os
brasileiros sabem quantas substituições podem ser feitas em cada partida e
opinam quem deve ser trocado por estar jogando mal. Fazem até a escalação
completa da seleção brasileira e criticam duramente o técnico que não chama
aquele jogador que a torcida prefere. Já nas eleições a coisa é mais
complicada. Os eleitores sabem quem são os péssimos políticos, mas não sabem
como derrotá-los. Os políticos sempre encontram uma aliança, um meio de
propaganda ou comprar votos e permanecer escalados para as próximas partidas,
mesmo contra a vontade do eleitor.
A Copa
vai acabando e as eleições começando. Seria de bom alvitre que as emissoras de
televisão e rádio dedicassem a mesma cobertura às eleições que fazem para o
futebol. Aquela mesa tática da Globo deveria colocar os candidatos a Presidente
da República ou a Governadores e seus Partidos, mostrando quem está mais
preparado na frente, no meio de campo ou na zaga para resolver os problemas do
povo brasileiro.
As
equipes deveriam montar plantão nas “Granjas Comarys” dos partidos políticos e descobrir o que os
candidatos comem, com que empresário reúnem, quais os acordos de bastidores,
quem está patrocinando as farras eleitorais.
No
futebol, Suarez mordeu o adversário e foi punido com noves jogos. Nas eleições,
muitos políticos abocanham as verbas públicas e nada acontece. Queremos
eleições padrão FIFA para escolher a melhor seleção de políticos para nossa
democracia.
* artigo publicado no Jornal O Estado do Tapajós