Minha trajetória política tem exatos 35 anos. Comecei em 1979, como operário. Era ditadura militar, tempos duros, sonhávamos com a liberdade e com a democracia.
Nunca quis ter cargos e nem status. Não entrei na vida pública para isso. Apenas quis um Pará justo e sustentável para mim, minha família e meus vizinhos. O meu querer brotou da insatisfação com as injustiças que vivenciei desde criança, no Guamá.
Meu pai e minha mãe eram migrantes nordestinos. Vieram do Ceará para ganhar a vida aqui e tiveram nove filhos. Crescemos com enormes dificuldades. Éramos muito pobres, mas fomos criados com valores cristãos e esses valores me fizeram não concordar com injustiças.
Eu era operário em uma gráfica. Gráfica grande para a época. Éramos mais de 100 trabalhadores, entre homens e mulheres. Eu era tipógrafo. Tipógrafo era o profissional que, usando letras de chumbo, montava as matrizes para impressão de livros, jornais, revistas, etc. É uma profissão que está extinta, foi substituída pelo computador e pelas novas mídias.
Ganhávamos pouco e trabalhávamos muito. Muito mesmo. Dez horas por dia. Um dia, eu e meus colegas, cansados da exploração, e embalados pelas noticias das greves operárias em são Paulo, resolvemos nos rebelar e dar um grito de chega. Na pressão, o patrão nos ouviu e atendeu parte dos nossos pleitos.
Desse dia em diante, nunca mais parei de lutar por melhores condições de vida para o nosso povo. Fui para o sindicato dos gráficos. Ajudei a fundar a CUT. Apoiei a luta de outras categorias de trabalhadores. Ajudei os assalariados rurais de Moju a se organizarem. Estive ao lado dos sem terras lutando por reforma agrária. Participei de lutas populares e por democracia.
Me filiei no PT, quando o PT ainda estava iniciando. Fui o primeiro vereador eleito em Belém pela sigla em 1988. Ajudei a fazer a Lei Orgânica de Belém. Participei dos movimentos pela retomada da democracia no Brasil e me orgulho muito disso. Exerci também o mandato de deputado estadual por duas vezes. Participei do governo como secretário-chefe da Casa Civil e também como secretário de promoção social.
Até que ingressei no Partido Verde e conheci a ideologia da sustentabilidade e do pacifismo. Aprendi que devemos usar os recursos naturais para gerar felicidade, usando agora sempre sem comprometer o que pertence as próximas gerações. Aprendi a respeitar a vida. Não apenas a vida humana, mas a de todos os seres. Desenvolvi a solidariedade universal.
Nestes trinta e cinco anos de participação política ativa, a grande maioria na oposição tentando construir alternativas para que sociedade encontre um caminho seguro em busca da distribuição de riquezas, vi muitas estradas serem construídas, usinas hidrelétricas montadas, estrada de ferro implantada, portos e aeroportos, obras gigantescas e caras, tudo para facilitar o escoamento dos produtos primários em maior quantidade e maior velocidade.
Retiraram as madeiras nobres e devastaram florestas dizendo que era para melhorar a vida das pessoas. Barraram o rio Tocantins como estão barrando o Xingu sempre com a propaganda que o progresso estava chegando. Implantaram usina de transformação de bauxita, de alumina, de alumínio como sinônimo de mais emprego e renda. Estão retirando daqui todos os dias toneladas de ferro, cobre, ouro e outros metais, dizendo que é para impulsionar o bem coletivo.
Que bem coletivo é esse que nunca chega para nossa gente?
Os números do Pará são ridículos em tudo. Somos o terceiro pior orçamento per capita do país. Mais de 2,5 milhões de paraenses vivem com menos de R$ 4,00 por dia. O PIB per capita paraense é menos da metade do PIB per capita nacional. Em 65% dos municípios do Pará, 50% da população depende exclusivamente do bolsa família para viver. Apenas 8% da capital, Belém, tem esgoto tratado. O Pará exporta mão de obra qualificada e recebe pessoas sem qualificação em busca de emprego nas áreas de expansão dos grandes projetos, inchando o correspondente a uma Castanhal por ano. Somos um Estado com altos índices de criminalidade e baixos índices de desenvolvimento humano. Este resultado foi produzido pelo modelo econômico e político tocado por todos os governos civis paraenses.
O Pará clama por mudanças. Mas não é só mudar as pessoas que estão no comando do nosso destino. Precisamos mudar de caminho e seguir por um caminho novo. Um caminho baseado na distribuição de renda, na sustentabilidade, na inclusão das pessoas e em investimos na economia local. É preciso criar um ambiente de participação que dê espaço ao novo.