Montanha de Ferro ao fundo |
A província mineral dos Carajás, no Pará, é rica em muitos minerais, principalmente ferro. São montanhas e montanhas do minério explorado pela Companhia Vale, antiga estatal Vale Do Rio Doce, vendida a preço questionável pelo ex-presidente e membro destacado do PSDB, Fernando Henrique Cardoso.
A Vale tem um só objetivo, exploração mineral e venda do produto para o exterior. É uma gigante garimpeira moderna, que usa toda a tecnologia disponível para extrair mais e em maior velocidade a riqueza mineral que a natureza levou anos para depositar no solo e subsolo paraense.
Muitos se iludem ou iludem o povo com as intenções da Vale para com o desenvolvimento do estado, mas o certo - e a história mostra isso - é que a Vale sempre faz o que interessa aos seus negócios, pouco preocupada com o meio ambiente, com o social e com o futuro do Pará. O Pará quer a navegação dos seus rios para usa-los como meio de transporte. A Vale prefere as suas ferrovias, por onde transportas as montanhas de ferro paraense para o Porto de Itaqui no Maranhão.
Mina de Carajás e Vagões carregados de ferro em direção ao Maranhão |
O Pará deseja viabilizar a hidrovia Araguaia-Tocantins. É um item fundamental para seu desenvolvimento, pois permitirá que todas as cargas do Centro Oeste sigam em direção a Europa, exportadas por Barcarena.
Para alcançar esse objetivo, o Pará precisa tornar navegável todos os trechos dos dois rios. Um trecho, porém é fundamental, aquele que vai de Marabá até Barcarena. Mas ai é que moram obstáculos quase intransponíveis.
Primeiro foi a barragem da Usina Hidrelétrica de Tucurui. Fizeram a obra durante o regime militar e não construíram as eclusas, mecanismo que permite a navegação do rio. Durante muitos anos os políticos paraenses brigaram com Brasília por essa obra, só no governo do presidente Lula a obra foi construída, mas de não adiantou, não resolveu a navegabilidade do Rio, pois adiante, depois da Barragem feita pelo homem, tem uma barragem natural, uma formação rochosa de 43 quilômetros, denominada "Pedral do Lourenço"que precisa ser removida e custo é alto, muito alto. O Pará não tem recursos e o Governo Federal retarda o investimento.
Se essa obra estivesse nos objetivos estratégicos da Vale, seria construída com certeza. Mas a Companhia Mineradora algoz do Estado, investe seus recursos na construção de um ramal ferroviário ligando o projeto S11D, em Canaã dos Carajás, a Ferrovia Carjás, que também está sendo duplicada para permitir um maior volume de exportação via o porto do Maranhão.
A obra do Ramal Ferroviário é gigante e a Vale não mede esforço, capital e consequências. Nada barra seu caminho. Pontes, viadutos, túneis estão sendo construídos pela Andrade Gutierrez.
Em sentido horário: Viaduto, Túnel, Montanha de Ferro e Depósito de Explosivos |
Visitei os canteiros e as obras, fui aos cantos onde um governador ou pretendente ao cargo nunca pisou. São obras gigantes para viabilizar a retirada das montanhas de ferro que a natureza nos premiou e que estamos deixando que sejam levadas sem a justa compensação.
No canteiro de obras do ramal Ferroviário com funcionários da AG |
Se a Vale quisesse e se fosse do seu interesse, a hidrovia Araguaia-Tocantins estaria construída. O "Pedral do Lourenço" não seria páreo para Ela. Mas a Vale não quer, nunca quis e não está no seu plano construir uma hidrovia para concorrer com sua ferrovia. Os governantes do Pará sabem disso, sempre souberam, mas jogam para platéia, deixando de esclarecer a população. O Pará de pires nas mãos corre atrás do edital para o derrocamento do Pedral. Mas a Vale, como que sabendo que isso nunca vai acontecer, investe na duplicação da ferrovia e na construção do ramal ferroviário.
Para provar o que digo, relato o seguinte episódio. Integrei uma comissão de deputados estaduais criada para negociar com a Vale do Rio Doce estatal, na década de 90. Desta comissão faziam parte os ex-deputados Bira Barbosa e Neuton Miranda, este já falecido. Fomos até o Rio Janeiro, onde fomos recebido pelo presidente da Companhia, Dr. Schetino. Apresentamos as seguinte reivindicações: a troca do representante do Pará no Conselho da Vale, cargo que era ocupado pelo Dr. Otávio Mendonça, cujo escritório representava os interesses da Estatal; a inclusão dos municípios paraenses nos programas financiados pelo Fundo Vale do Rio Doce; e apoio da Vale para hidrovia Araguaia-Tocantins.
Schetino era muito prático. Ouvi as nossas demandas e despachou na mesma hora. Não concordou em substituir o dr. Otávio Mendonça. Concordou em estender os benefícios do Fundo aos municípios paraenses. Com relação a Hidrovia foi bem transparente sua negativa. Disse-nos o Executivo da Estatal: "Não podemos apoiar. A Vale tem uma Ferrovia e a Hidrovia é contrária aos nossos interesses". Podemos até pensar nela até Marabá, mas de Marabá até Barcarena, somos adversários do Pará."
A Vale só nos ajuda naquilo que seu interesse coincidir com os nossos. No mais, somos adversários e precisamos saber disso. Ela apoia o Arraial do Pavulagem, isso é bom para sua imagem, também é bom para nossa cultura. Mas ela não apóia o derrocamento do pedral do Lourenço, que é bom para o Pará, mas não é bom para os seus negócios de transporte por via férrea, simples assim.