O prédio em construção ilegalmente na Orla de Belém é revelador do tipo de elite que temos por aqui. Ela não tem preocupação com meio ambiente, com o bem comum e nem respeita a maioria. Não acredita no Estado Democrático de Direito. E tem certeza que seu poder de influenciar os órgãos e as pessoas em cargo de mando é o suficiente para quebrar todas as barreiras que se antepuserem sobre os seus interesses.
Em suma, continua valendo o dito baratista. Quando é para favorecê-los, eles sempre pensam "a lei é potoca".
É uma elite que não tem compromisso com a cidade ou com o estado. Aqui é para ganhar dinheiro e gastar com luxo e com viagens. Os filhos são preparados para partir, morar em outros lugares. Os nossos ricos não gostam de Belém e nem do Pará.
É comparado o fazendeiro do Marajó do século XIX. O gado é criado solto. A fazenda não tem cerca. Os empregados são escravos. Vacina, remédio, sal, são produtos de luxo. Lá tem umas choupanas para abrigar os vaqueiros e suas famílias que não frequentam escolas, não tem saúde pública e nem direitos trabalhistas. O fazendeiro nunca investe na melhoria do gado e no bem estar dos empregados. De lá, apenas tira tudo que pode. A única coisa diferente por lá é a casa grande. Uma casa de luxo no meio do nada. O fazendeiro marajoara precisa de conforto nos poucos meses que tem que ir até aquele inferno buscar a renda do que a terra e escravidão produziram. Assim é a nossa elite.
Daqui eles querem tirar tudo que podem e no período que ficam por aqui, por esse submundo atrasado, violento, brega, sem requinte, ganham dinheiro e precisam de um bom apartamento para descansar seus ossos quebrados de tanto contar o que ganharam com o nosso atraso, de preferência com vistas para baia, muito embora a miséria more bem ao seu lado.
A Lei Federal diz que áreas em beira de rio são consideradas de preservação permanente. Proíbe construções do tipo multifamiliar que alterem a paisagem, ameaçem o equilibrio geológico e os recursos hídricos. Os donos do terreno e da construtora sabiam disso. Sabiam porque o primeiro pedido de licença foi negado e lhes foi dito que não podiam construir o tal prédio ali, as margens da baia. E o que eles fizeram? Esperaram mudar os dirigentes do órgão ambiental e fizeram outra tentativa que acabou dando certo.
O MPF, o MPE e a sociedade tentaram barrar. A Justiça Federal mandou parar a obra, mas eles foram até Brasília e de lá sairam com uma decisão liminar para continuar a obra. Chegaram onde chegaram por acreditar que nada e ninguém pode para-los. É isso, assim pensa e age a nossa eleite.
Agora, eles apostam que não vai dar em nada. Quem é o juizo ou a Justiça que pode mais que eles? Quem é?